A Minas Estate Coffee Group, uma das empresas pioneiras na produção de cafés especiais no Brasil, está apostando num novo nicho de mercado: o café "gourmet" descafeinado. Para isso, está trazendo do Canadá café em grão verde brasileiro sem cafeína, retirada por meio de um método inovador.
A companhia prevê que existe um mercado amplo a ser explorado no Brasil. Estimativas dão conta de que nos Estados Unidos, o maior consumidor mundial da bebida, cerca de 20% dos cafés especiais comercializados são descafeinados, conta Alexandre Gonzaga, sócio-diretor da Minas Estate. No Brasil, o consumo chega em média a 1%, segundo ele.
A atuação da Minas Estate em café descafeinado começou a ser desenhada em 2010, quando a S wiss Water, empresa canadense subsidiária da Ten Peaks Coffee Company, procurou a Minas Estate. A Swiss Water também usava café brasileiro para realizar o processo de descafeinação por meio de um filtro - depois da tradicional lavagem dos grãos - desenvolvido para esse fim. A filtragem é capaz de "sequestrar" a cafeína na separação dos componentes do grão, sem a necessidade de adição de substâncias químicas que deixam resíduos e afetam o sabor do produto. Segundo Gonzaga, a técnica garante a obtenção de café com quase 100% menos de cafeína.
Mas somente há três meses a Minas Estate trouxe do Canadá os primeiros lotes com o grão verde descafeinado pela Swiss Water - cerca de três toneladas que foram torradas pela companhia para comercializar no mercado interno - e mais aproximadamente 15 toneladas vendidas a outros torrefadores brasileiros. A meta da Minas Estate é chegar a adquirir 100 toneladas do produto por ano.
O custo da operação ainda é alto, segundo Gonzaga. Além dos impostos como ICMS, PIS e Cofins, o produto precisa pagar taxa de importação e outras tarifas portuárias. Por isso, ao consumidor final ele é de 60% a 70% mais caro que um similar. O quilo é comercializado no varejo por R$ 40. A matéria-prima que a Minas Estate compra da empresa canadense (sempre grãos brasileiros sem cafeína) custa de US$ 3 a US$ 4 o quilo (sem os impostos). Por ser considerado um produto industrializado e higienizado, a importação é permitida, explica Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Hoje é proibida a entrada de café verde em grão de outros países.
A operação ainda não garante lucro, segundo Gonzaga, mas o plano agora é "customizar" o produto descafeinado, ou seja, escolher a matéria-prima para ser submetida ao processo de descafeinação, pois hoje a Swiss Water é responsável pela compra da matéria-prima e oferece à Minas Estate o produto "final".
Herszkowicz, da Abic, diz que o consumidor brasileiro não tem ainda a preferência por esse tipo de produto. Gonzaga afirma que o descafeinado é procurado principalmente por idosos, mulheres e outras pessoas que têm receio de que a cafeína possa prejudicar o sono.
O faturamento da Minas Estate este ano deve ficar em torno de US$ 3 a US$ 4 milhões. A companhia exporta de 10 mil a 15 mil sacas de cafés especiais por ano aos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Japão, França e Portugal, diretamente para pequenos torrefadores. No mercado interno, a empresa fornece de dois mil a três mil quilos de grãos por mês para cafeterias em Belo Horizonte, Brasília, Rio Grande do Sul e de Mato Grosso.
Veículo: Valor Econômico