Para ‘Economist’, americanos agiram como os europeus ao fechar acordo no último minuto
Passada a euforia da aprovação de um acordo que evitou uma crise econômica imediata nos Estados Unidos, com aumento de impostos e cortes automáticos de gastos, os analistas lembram os desafios que o presidente Barack Obama terá de enfrentar nos próximos dois meses. O principal é a elevação do teto de endividamento do governo, prevista para fevereiro. As discussões agora serão com o Congresso que tomou posse ontem. E o republicano John Boehner — um dos principais opositores do pacote apresentado pelo governo — conseguiu se reeleger para a presidência da Câmara.
“Estamos prontos para outro round de comportamento arriscado e incertezas”, disse ao jornal “The New York Times” Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics, que prevê semanas de “angústia e discussões” em Washington. “Não acredito que a economia conseguirá se firmar e atingir um nível maior de crescimento até atravessarmos essa fase.”
Na quarta-feira, a agência de classificação de risco Moody’s alertou que as disputas políticas envolvendo o teto da dívida podem levar ao rebaixamento da nota dos EUA. E o diretor-gerente sênior da consultoria Macroeconomic Advisers, Joel Prakken, resumiu: “Está uma bagunça.”
Já a revista britânica “The Economist” desta semana afirmou em editorial que o acordo entre governo e oposição aos 45 minutos do segundo tempo tem “semelhanças perturbadoras” com a “bagunça na zona do euro”. Assim como os líderes europeus, afirma a revista, “democratas e republicanos mostraram-se incapazes de alcançar um amplo acordo; ambos estão se deixando conduzir pelos extremistas de seus partidos e estão muito focados em obter concessões do outro lado para trabalhar de maneira firme a fim de assegurar o futuro fiscal do país”. A capa da revista traz Boehner com roupa de tirolês e Obama de blusa listrada e boina.
A “Economist” diz ainda que nem governo nem oposição têm do que se orgulhar. “Daqui a dois meses, temos a perspectiva de outra crise sobre o teto da dívida e mais confusão”, disse à revista o senador democrata Tom Carper. Já o parlamentar republicano Steve LaTourette considerou o acordo “uma bola de pingue-pongue produzida por octogenários privados de sono na véspera do Ano Novo”.
Outro fator que reduziu a euforia dos mercados na ressaca do acordo foi a divulgação da ata da reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em dezembro. Ela mostrou que, apesar de o Fed ter prometido manter os estímulos monetários até que o desemprego fique abaixo de 6,5%, alguns membros da diretoria temem os efeitos dessa medida nas contas do organismo e defendem que ela seja suspensa antes do fim do ano. Na reunião também se falou sobre os riscos à estabilidade financeira trazidos pelo chamado abismo fiscal.
Veículo: O Globo - RJ