Apple enfrenta desafios para recuperar mercado

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O preço das ações da Apple estava pouco acima de US$ 200 no fim de janeiro de 2010, quando Steve Jobs subiu ao palco para lançar o iPad. Todos os investidores que compraram o papel na época e que o mantiveram desde então quase duplicaram seu dinheiro. Obtiveram melhor retorno do que se tivessem investido em qualquer outra grande empresa de tecnologia americana, com exceção da Amazon.

Mas a queda do valor das ações da Apple, para menos de US$ 400 nos últimos dias, chama a atenção para a perda de impulso vivida pela empresa. Pela primeira vez desde a estreia do iPad, não se observa qualquer acontecimento importante neste segundo trimestre.

Desde a blitz de produtos do segundo trimestre do ano passado, quando quase todos os aparelhos tiveram uma versão modernizada e o preço das ações da Apple alcançou seu pico, de mais de US$ 700, Tim Cook, o principal executivo da companhia, vem pedindo desculpas com mais frequência do que lança inovações.

Depois de manifestar seu pesar pelo deteriorado lançamento de seu aplicativo Maps e por supostas falhas de assistência técnica ao consumidor na China, Cook ainda tem de se desculpar junto aos acionistas pelos quase US$ 300 bilhões em valor de mercado perdidos desde as altas recorde de setembro.

No entanto, o líder da Apple manifestou solidariedade. "Também não gostei", disse ele, sobre o preço das ações na assembleia anual de fevereiro.

Durante o encontro, uma esmagadora maioria dos acionistas da Apple votou pela permanência de Cook como principal executivo da empresa.

Mas analistas como Walter Piecyk, da BTIG Research, dizem que se a Apple não conseguir desovar produtos radicalmente novos ou melhorar o crescimento desacelerado de sua receita nos próximos seis meses, os investidores poderão começar a ficar inquietos.

"Não há desculpa para isso - trata-se de uma mudança bem drástica", diz ele sobre a desaceleração da receita.

A maior lentidão em seu crescimento se deve em parte ao ano de 2012, que foi superaquecido, e à arrancada de lançamentos de produtos, fatores que se juntaram mais para o fim do ano. Mas a Apple ainda não lançou uma nova categoria de aparelho - como televisor, relógio ou smartphone mais barato - capaz de lembrar os investidores de sua capacidade de inovação.

Além disso, as especulações de que a Apple poderá lançar novos aparelhos com maior frequência este ano ainda não se concretizaram. Isso custou à Apple tanto crescimento de vendas quanto agitação de marketing.

Velocidade para inovação, modelos mais baratos e potencial para crescimento formam uma difícil equação

Em 2012, "a empresa controlou o ciclo de notícias durante boa parte do ano... assim, bastava olhar à volta que havia um novo produto da Apple, e eles eram incrivelmente envolventes", diz Rhoda Alexander, analista de tablets da empresa de pesquisa de mercado IHS iSuppli. "Não faz sentido, em termos de marketing, modernizar todos ao mesmo tempo."

No entanto, mudar para um ciclo de renovação de produtos de maior frequência reduziria as economias de escala da Apple e pressionaria suas margens, em uma época em que o sucesso do iPad Mini, mais barato - que talvez responde por nada menos que dois terços do total de iPads vendidos -, compromete o perfil geral de lucros da Apple.

Esse é apenas um dos motivos pelos quais os investidores se conformam com o tenebroso conjunto de resultados divulgado hoje. A orientação da própria Apple sugere que os lucros trimestrais vão cair, no comparativo ano a ano, pela primeira vez em uma década. Após se mostrar especialmente cautelosa em sua orientação de janeiro, outra perspectiva fraca para o trimestre de junho da Apple pode fazer as ações caírem ainda mais.

"Tim Cook, em particular, e a Apple, em geral, nunca deram a impressão de formar uma empresa que se empenha em suavizar os resultados dos trimestres", afirma Benedict Evans, da Enders Analysis. "Acho que eles não vão administrar o ciclo de produto a fim de gerar um bom fluxo de resultados financeiros para Wall Street."

Embora o iPhone continue a dominar o mercado americano de aparelhos de mão, o persistente sucesso de modelos mais antigos de smartphone da Apple e a queda de sua participação em mercados de crescimento mais acelerado, como a China e o Brasil, fizeram com que os analistas questionassem a capacidade da empresa de crescer em um prazo mais longo.

Em nota especialmente pessimista divulgada na semana passada, analistas do Barclays reduziram suas projeções de lucros para 2014 em 20%, de US$ 48,92 para US$ 39,35. O Barclays agora prevê que as vendas unitárias do iPhone vão crescer apenas 4% no decorrer do atual ano fiscal da Apple, para 133,4 milhões de aparelhos. O crescimento da receita total, de 7%, para US$ 168,03 bilhões, no ano a encerrar-se em setembro, vai desacelerar para 2% em 2014 e para 4% em 2015, prevê o Barclays.

Alguns dizem que Cook é simplesmente vítima do sucesso da Apple. "É difícil criticar Tim Cook por ter uma parcela tão gigantesca do mercado que não dá para conseguir mais", diz Evans sobre a desaceleração.

No entanto, a empresa se defronta agora com um ponto de inflexão que não se compara a qualquer outro ocorrido nos últimos três anos.

"O desafio é que é muito fácil ver um teto para o crescimento do iPhone em um futuro relativamente próximo", diz Evans. "Por outro lado, não temos a menor ideia do tamanho do mercado de tablets... Há um risco real e tangível de que esse é o máximo que a Apple pode conseguir."

Durante os próximos seis meses o mercado assistirá a um teste decisivo, quando a Apple tem de decidir se lançará um novo iPhone de baixo custo que poderá descongelar os mercados emergentes e fazê-la voltar a aumentar sua participação de mercado - mas talvez em detrimento de suas margens e do ágio representado pela sua marca. A maneira pela qual Cook administrará essa transição será decisiva para a sensibilidade do acionista.

"Os investidores darão à empresa o benefício da dúvida pelo próximo trimestre, mais ou menos", diz Piecyk. "É difícil acreditar que a empresa não anuncie alguns produtos entre a data atual e 1º de outubro. Mas, se a empresa não fizer isso, e não fizer coisas óbvias para aumentar a receita e os lucros, tem-se de começar a perguntar se essa é a equipe de gestão certa."



Veículo: Valor Econômico


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