A expansão da renda agrícola em 2013 deve compensar, no varejo, a desaceleração de outros indicadores de renda nos grandes Estados produtores. Projeções indicam avanço de cerca de 10% para a renda agrícola neste ano, acima da alta média de 4,4% esperada para a massa de rendimentos do país em igual período - o pior desempenho desde 2009, segundo a consultoria MB Associados. Assim, se ocupação e salários terão menor poder de fogo sobre as compras, o agronegócio deve continuar a sustentar investimentos e consumo nas regiões produtoras (Centro-Sul em destaque), com impacto mais visível em pelo menos dois segmentos: o mercado imobiliário e o de veículos.
Em 12 meses até fevereiro, as vendas de automóveis comerciais leves novos são lideradas pelo Centro-Oeste, em alta de 17,2%, e pelo Sul, com alta de 11,1%, segundo aponta o Bradesco a partir de dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Nas vendas de automóveis novos, Centro-Oeste e Sul mais uma vez se destacam, em alta de 12,3% e de 7,9%, respectivamente, em 12 meses até fevereiro, só superados pelo Nordeste, que teve alta de 13,8%.
Já no volume de vendas do comércio varejista restrito (que exclui veículos e materiais de construção), a alta nas regiões Centro-Oeste e Sul foi de 8,4% cada em 12 meses até janeiro, acima da expansão média nacional, de 8,3%, e mais uma vez só perdendo para o Nordeste - região em que a renda agrícola sofreu muito no ano passado em razão da seca, mas que é bastante favorecida por outros fatores, como o aumento de renda dos salários, do emprego e da bancarização.
Se olhado por região, o movimento de empregados da construção civil também reflete o bom momento pelo qual passam as grandes regiões produtoras. No país, o número de empregados do setor cresceu, em média, 34% nos últimos três anos. Na região Centro-Oeste, a expansão foi de 37%, atrás do Norte (44%) e do Nordeste (48%), aponta estudo feito por Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção civil da Fundação Getulio Vargas (FGV), a partir dos dados da Rais. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no entanto, se destacam com alta do número de empregados da construção bem acima da média até mesmo das regiões mais aquecidas: 63% e 45%, respectivamente.
A economista do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Regina Helena Couto Silva, lembra que nem sempre a expressiva renda agrícola gerada em alguns lugares é consumida na mesma região, pois muitos produtores têm terras em uma cidade, mas moram em outra região. Em alguns Estados, porém, esse descolamento se dá apenas entre cidades.
No setor imobiliário goiano, por exemplo, a força da renda agrícola pode ser sentida especialmente na capital, Goiânia, diz o presidente do Secovi-Goiás, Marcelo Baiocchi. Empresários do ramo rural - fazendeiros que enriqueceram na esteira do aumento da produtividade proporcionada pelo uso de máquinas e equipamentos de alta tecnologia - têm feito a diferença no mercado imobiliário goiano, ao buscar moradia para os filhos que vão estudar na capital. O movimento alavancou os preços de apartamentos, especialmente os de três quartos, de 80 a 140 metros quadrados: o metro quadrado hoje chega a até R$ 3,5 mil, ante cerca de R$ 800 alcançados em 2005.
Estimativas do departamento de economia do Bradesco com base em dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam alta de 10,4% para a renda agrícola bruta de grãos em 2013 para um total de R$ 124,9 bilhões - o terceiro ano consecutivo de expansão de renda para o setor. Os dados, relativos à safra atual 2012/2013, incluem arroz, algodão, feijão, milho, trigo e soja. O Centro-Oeste ficará com 40% dessa renda agrícola (ou R$ 52,1 bilhões), enquanto o Sul absorverá 36% desse total, ou R$ 46,3 bilhões, segundo o Bradesco.
As projeções da GO Associados também são otimistas. Com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação Getulio Vargas, e que, além de grãos, incluem ainda as culturas permanentes (café, cana, fumo e laranja, entre outros), a consultoria aponta aumento de 7% para a receita agrícola bruta em 2013, para um total de R$ 256,8 bilhões. Isso, após uma alta de 4% em 2012 e de 30% em 2011.
"O efeito de um aumento de renda tão extraordinário quanto o obtido em 2011 transborda para outros anos e se espalha pelo tecido econômico", diz Fabio Silveira, sócio da GO Associados. "Estive no Mato Grosso há cerca de três meses e o efeito riqueza é visível, ninguém quer falar em crise. Impressiona o número de concessionárias de automóveis."
A soja explica o ambiente favorável, ao lado da cana e do milho, que também devem obter um desempenho favorável nesta safra. Segundo a GO Associados, nada menos do que 33% de toda a renda agrícola produzida em 2013 virão da soja, cuja produção está concentrada em quatro Estados: Mato Grosso (29%), Paraná (19%), Rio Grande do Sul (15%) e Goiás, responsável por 11% da produção nacional.
"Dá para imaginar o impacto que um produto cuja receita aumentou 80% nos últimos quatro, cinco anos tem sobre consumo, tributos e habitação", diz Silveira. Para ele, no caso específico do Sul, as turbulências que atingiram a região devido à forte concentração de setores impactados pela concorrência chinesa, como o de móveis, calçados e têxtil, podem, ao menos em parte, ser compensadas pela força da renda agrícola.
Veículo: Valor Econômico