Desemprego baixo com inflação não é bom, diz Prêmio Nobel

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O desconforto com a inflação brasileira manifestado, por empresários nesta semana, já extrapolou as fronteiras do país. O economista americano Christopher Albert Sims, 70 anos, que dividiu o Prêmio Nobel de 2011 com o compatriota Thomas Sargent, advertiu ontem, em entrevista exclusiva ao Valor horas depois de desembarcar no Rio de Janeiro, que o crescimento e o emprego associados à inflação alta não são salutares.

"A inflação nunca pode ser uma resposta permanente para reduzir o desemprego." A frase de Sims foi dita em meio à resposta a uma pergunta sobre como avaliava os dados macroeconômicos contraditórios do Brasil, combinando crescimento baixo, inflação alta e virtual pleno emprego.

Ele disse que o quadro que se desenha neste momento no país é "o pior tipo de situação" para aqueles encarregados de traçar as políticas econômicas, dada a dificuldade de conseguir um consenso entre os economistas. "Vai depender de quanto peso se põe no aumento da inflação."

Segundo Sims, na década de 70 os Estados Unidos enfrentaram dilema parecido: a inflação era alta e o desemprego, baixo. A saída americana foi pelo doloroso caminho de aumentar momentaneamente o desemprego para evitar o descontrole dos preços. "Um ponto que precisamos aceitar é que controlar a inflação pode significar desemprego mais alto temporariamente."

Outro recado dado pelo economista americano foi quanto aos instrumentos que devem ser acionados para controlar a inflação. Para Sims, embora os juros mais altos tenham influência sobre os preços, essa influência só será duradoura e saudável se vier combinada com o uma política fiscal que assegure o controle do déficit no longo prazo.

"Taxas de juros mais altas são apenas contração monetária. E sabemos que contração monetária forte o suficiente pode desacelerar a economia e reduzir a inflação, ao menos temporariamente", afirmou Sims, acrescentando que nos Estados Unidos, antes do controle da inflação nos anos 70/80, houve episódios de aperto monetário que reduziram a inflação, mas não de forma sustentável.

"Acho que a experiência pode ser explicada, em parte, porque a situação fiscal do Estados Unidos estava em desordem", disse. Para Sims, "a política monetária pode trazer a inflação para baixo no curto prazo, mas se não há política fiscal apoiando, não funciona permanentemente". Na sua visão, sem o controle do déficit fiscal no longo prazo, a desconfiança acaba instalando-se. "Se os mercados começarem a duvidar, a política monetária pode criar apenas um alívio temporário na inflação."

Esse diagnóstico não significa, porém, que o economista americano defenda a austeridade fiscal a qualquer preço. Ele rechaça, por exemplo, as políticas que vêm sendo adotadas pelos países da zona do euro em crise, como Espanha, Portugal, Itália e Grécia, sob inspiração alemã.

"Penso que houve um erro deles ao tentar cortar gastos e elevar impostos muito fortemente quando as economias já estavam em queda. A maneira mais confiável para reduzir isso é crescer", ponderou, fazendo coro com a crescente onda de descontentamento, expressa em recentes trocas de governo, na maioria dos países europeus com o receituário posto em prática para combater a crise.

O crescimento, na visão do economista, iria tanto reduzir a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) como aumentar a arrecadação tributária. "As medidas que eles tomaram, cortando infraestrutura, educação e colocando jovens fora do mercado de trabalho não são boas para reduzir a dívida", explicou.

Sims, que participa hoje do evento "3ª Conferência Global: Ciclo de Negócios", promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e Vale, ganhou o Nobel graças aos seus estudos para o desenvolvimento modelo econométrico para calcular relações de causa e efeito entre políticas macroeconômicas - a forma como a taxa de juros influencia a formação dos preços, por exemplo.

Professor da Universidade de Princeton, Sims é um defensor ferrenho da econometria e discorda que a matemática seja usada às vezes em excesso para explicar os fenômenos econômicos. "A matemática é uma língua. Dizer que os economistas foram muito longe no seu uso é a mesma coisa que dizer que os economistas ficaram muito empolgados com o inglês e que devem voltar a escrever em alemão, como no século XIX."

Ele disse que o erro dos Estados Unidos na crise de 2008 foi que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) tinha muitos dados sobre os bancos, que se mostravam saudáveis, mas não das instituições financeiras não bancárias, como as agências de crédito imobiliário, que era onde estava o problema. Dada a complexidade dos sistemas financeiros, ele só vê uma solução para não errar: "Precisamos ter mais dados e modelos mais complexos."



Veículo: Valor Econômico


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