Brasil disputa liderança mundial em safra, mas gargalos trazem prejuízo de US$ 1 bilhão
As crescentes estimativas de aumento na produção brasileira de grãos, apesar de trazerem otimismo às exportações, têm feito sombra aos gargalos que ampliam cada vez mais os limites da expansão dessa área do agronegócio nacional. Ontem, enquanto a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgava um incremento de 17,98 milhões de toneladas no levantamento que calcula a safra 2012/2013, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) declarou ao Brasil Econômico que, só neste ano, os exportadores de grãos calculam em mais de US$ 1 bilhão os prejuízos a serem absorvidos em razão dos problemas logísticos para o escoamento da safra.
Disparates assim, indicam especialistas, estão diretamente ligados aos gargalos de infraestrutura envolvidos na cadeia.O Brasil consegue, por exemplo, produzir a custos tão competitivos quanto os dos Estados Unidos, líder mundial em soja, mas vários empecilhos impedem o país de ultrapassar a produção americana. Ainda resiste a expectativa de um avanço da posição brasileira, hoje em segundo lugar no ranking global. Mas não existe dúvida de que, não fosse o caos logístico, essa distância poderia ser menor há mais tempo.
“Estamos extremamente otimistas com o crescimento e as perspectivas para a produção, mas pessimistas ao extremo no que se refere à infraestrutura”, diz Sérgio Castanho Teixeira Mendes, diretor geral da Anec. “Só nesses primeiros meses de 2013, os exportadores já registraram o pior período em termos de rentabilidade, por terem de arcar com muito mais gastos do que os previstos no momento de fechamento dos contratos de exportação”.
Mendes explica que tradicionalmente os gargalos logísticos se impõem diante da competitividade alcançada pela produção de grãos brasileira. “Temos, por exemplo, um custo de frete cerca de US$ 60 superior ao americano”, diz. Em compensação, o Brasil avança em tecnologia e inovação no campo. Prova disso é que a área plantada de soja cresceu 50% nos últimos dez anos, enquanto a produção avançou muito mais, 62%, segundo a consultoria Agroconsult.
De acordo com a Conab, a produção nacional de grãos do período 2012/2013 está estimada em 184,15 milhões de toneladas, quantidade 10,8% superior à da safra 2011/2012. A soja permanece como o grande destaque, com um crescimento de 22,8% sobre as 66,38 milhões de toneladas da última safra e uma produção estimada em 81,53 milhões de toneladas. Estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) mostra que, não fossem os gargalos logísticos, os investimentos na cadeia de grãos poderiam ser 20% maiores.
Os portos são apontados como o principal imbróglio logístico. Mas,nesse aspecto, a Codesp, responsável pelo Porto de Santos, responde que não pode caber ao porto a responsabilidade por todo o déficit logístico da cadeia. Ainda assim, a companhia destaca que está realizando um grande esforço para a melhoria do processo de embarque das cargas.
Veículo: Brasil Econômico