A notícia de que a Argentina cancelou os embarques de trigo e de farinha devido à escassez desses itens por lá complicou ainda mais um cenário que já era difícil. Uma soma de fatores, entre os quais a quebra nas safras brasileira e argentina, tem trazido como consequência uma oferta apertada do principal insumo para a produção de pães, massas e biscoitos, entre outros itens.

Estoques públicos também estão em baixa. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tem apenas 100 mil toneladas de trigo para ofertar. Para se ter uma ideia, o volume processado mensalmente pelos moinhos gaúchos fica entre 110 mil e 120 mil toneladas.

Como virou artigo raro, moinhos já teriam decretado que, a partir de julho, a farinha subirá 20%. No embalo, derivados absorverão esse custo, com alta projetada pelo Sindicato da Indústria de Panificação, Confeitaria, Massas Alimentícias e Biscoitos do Rio Grande do Sul (Sindipan-RS) entre 10% e 20%. Na comparação entre julho deste ano e do ano passado, o aumento na farinha pode alcançar 100%.

Para tentar reverter esse quadro, o governo derrubou em abril a tarifa externa comum de 10% cobrada para o produto vindo de fora do Mercosul. A medida, porém, expira em 31 de julho – e neste momento os benefícios da isenção são diluídos pela alta do dólar. O setor já pediu a prorrogação da medida até 30 de setembro, ainda sem retorno. Para Arildo Bennech Oliveira, presidente do Sindipan, “há risco grande de desabastecimento”. Presidente do Sindicato da Indústria do Trigo (Sinditrigo), José Antoniazzi concorda com a tese de que a situação “é crítica”.

O Estado está em meio ao plantio da nova safra – 55% da área já havia sido cultivada conforme levantamento da Emater –, mas com a chuva dos últimos dias, praticamente não houve avanços na principal região produtora, a do Planalto Médio. Nada que não possa ser recuperado em uma semana de tempo bom, explica o assistente técnico da Emater Ataídes Jacobsen. Mas o crescimento na produção só se concretizará na colheita.



Veículo: Zero Hora - RS