Argentina barra exportação de farinha de trigo

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As exportações de farinha de trigo estão suspensas na Argentina até o início da colheita da nova safra, no fim do ano. Os embarques do produto já haviam sido bloqueados em março. A medida, adotada pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, tenta aumentar a produção doméstica de pão, produto cujo preço se multiplicou em até vezes nos últimos meses, dependendo do tipo. O Brasil tradicionalmente é o mercado para 80% das vendas argentinas de trigo e derivados.

A escassez de trigo, provocada por uma redução da safra de 14 milhões para 9,5 milhões no ano passado na Argentina, já estava afetando as exportações no início do ano. Das 300 mil toneladas de farinha que haviam sido autorizadas pelo governo argentino para a comercialização no mercado externo, apenas 58 mil haviam sido embarcadas até o fim de abril - 45 mil para o Brasil, segundo dados oficiais. O volume total vendido ao exterior em 2013 deve ficar em 100 mil toneladas. No caso do grão, o governo inicialmente havia autorizado a comercialização de 5 milhões de toneladas em exportações, volume que foi cortado para 3 milhões há três meses, já embarcadas.

O governo levantou suspeitas de que as empresas exportadoras estariam retendo as 5 milhões de toneladas de grão inicialmente autorizadas e as 3 milhões efetivamente exportadas, tese difícil de ser sustentada pelo diferencial inédito de preço entre o mercado internacional e o doméstico: enquanto a tonelada do trigo está em US$ 302,85 a tonelada, internamente o produto é comercializado a 2.500 pesos argentinos a tonelada, o equivalente a US$ 464. "Se estivesse havendo retenção de estoque é óbvio que ele estaria sendo desovado para a indústria moageira agora, em função desse diferencial de preço. A farinha subiu e o preço do pão também porque está faltando trigo mesmo", afirmou o economista chefe da Sociedade Rural Argentina (SRA), Ernesto Ambrosetti.

Como solução imediata para o problema, Ambrosetti sugere importações emergenciais do produto, algo sem precedentes na história argentina. "Como medida reguladora, o normal seria importar agora, mas o impacto político de comprar trigo no exterior seria muito ruim para o governo", disse. A SRA está rompida com a administração da presidente Cristina Kirchner desde 2008.

Na semana passada, Moreno articulou um acordo para que um determinado tipo de pão, conhecido por "felipe", seja vendido na Argentina a 10 pesos o quilo, metade do preço normal do produto. Mas para isso a indústria panificadora depende de matéria-prima: nos primeiros cinco meses do ano, a produção de farinha de trigo na Argentina caiu 9,4% em relação a 2012, ficando em 2,383 milhões de toneladas, segundo dados da Federação Argentina da Indústria de Moinhos (FAIM).

De acordo com a economista Carolina Schuff, analista setorial da empresa de consultoria em comércio exterior Abeceb, o panorama da produção de trigo na Argentina está semelhante ao da carne bovina entre 2009 e 2011: as intervenções do governo para garantir o suprimento doméstico e regular preços levaram a uma queda nas exportações, que fez com que os produtores procurassem alternativas e reduziu a produção. "Nos últimos anos os produtores migraram para culturas cujas exportações não são reguladas pelo governo, como a da cevada", disse.

Este ano, a SRA estima que a área plantada de trigo deve atingir 3,9 milhões de hectares, um aumento da ordem de 7% em relação a 2012. Os altos preços internos e a iniciativa do governo de prometer o reembolso do imposto de exportações (retenciones) para o exportador que aumentar suas vendas na próxima safra estão influindo de forma limitada. "Falta semente de trigo para semear mais na Argentina, porque o governo proibiu as importações. A produção só retomou um pouco porque o mercado de cevada já está saturado", afirmou Ambrosetti.



Veículo: Valor Econômico


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