Uma eventual abertura de capital é hoje "uma opção, não uma necessidade" para a varejista de artigos esportivos Netshoes, diz o vice-presidente de planejamento da companhia, José Rogério Luiz.
Com crescimento de 63% na receita líquida, para R$ 783,1 milhões, a companhia dobrou seu prejuízo para R$ 79,26 milhões no ano passado. O resultado antes de juros e impostos também foi negativo, e as operações consumiram R$ 173 milhões de caixa.
Mas, de dezembro para cá, o retrato financeiro da companhia mudou. Em alguns meses do primeiro semestre, afirma o executivo, a companhia alcançou o equilíbrio operacional e gerou caixa.
Juntamente com bancos próximos, a Netshoes analisa a possibilidade de uma oferta pública inicial, no Brasil ou no exterior. "Por enquanto, a nossa postura é mais reativa do que proativa no contato com os investidores. Eles nos procuram", afirma.
A Netshoes financia um terço de sua operação com recursos próprios e o restante com dinheiro de terceiros. A captação de recursos na bolsa poderia servir para quitar os compromissos financeiros, que têm boa parcela de culpa no resultado líquido negativo da empresa.
Ao fim de 2012, a Netshoes tinha dívida bruta de R$ 367,35 milhões - dos quais R$ 275,8 milhões com vencimento no curto prazo - e R$ 136,1 milhões em caixa. "Uma vez que começamos a gerar caixa, podemos rebalancear a estrutura de capital", diz.
Já que a Netshoes caminha para terminar o ano operacionalmente no azul, zerar a dívida significaria, na prática, lucro líquido. Por conta dos prejuízos acumulados, a linha de imposto de renda é positiva.
A melhora das operações reflete as mudanças implementadas para quebrar o ciclo de queima de caixa, comum em empresas de comércio on-line no Brasil que "tropicalizaram", de forma equivocada, o modelo americano. "Nos Estados Unidos, as empresas recebem à vista e pagam depois. No Brasil, se pratica o [modelo] 12 vezes sem juros".
A Netshoes passou a cobrar frete de acordo com o prazo de entrega e estabeleceu tíquete mínimo para as compras parceladas. Isso pode fazer a empresa crescer menos, mas de forma mais sustentável.
A fatia das despesas com frete em relação à receita caiu de 15% para 7% no primeiro trimestre em relação a um ano antes, diz Luiz. No longo prazo, o executivo tem ambição de zerar essa despesa.
Ele não dá projeções de faturamento, mas o Valor apurou que a empresa trabalha internamente com estimativa de alta entre 22% e 32% este ano. Com centro de distribuição em São Paulo e Recife, a Netshoes não teve, por enquanto, problemas por causa das manifestações nas rodovias, mas está monitorando a questão de perto, diz Luiz.
Em 2014, os gastos com marketing aumentarão de forma significativa por causa da Copa do Mundo, assim como as vendas também receberão impulso, diz. Luiz considera "possível" que, em até três anos, a Netshoes se torne a maior varejista de artigos esportivos do país. Significa ultrapassar a Centauro, que prevê receita de R$ 1,9 bilhão este ano, e tem como sócia a GP Investimentos.
A Netshoes é controlada pelo fundador Marcio Kumruian e pelos fundos Tiger e Temasek.
Veículo: Valor Econômico