Retração econômica impacta desempenho do setor.
O desempenho do transporte rodoviário de cargas em Minas Gerais nos últimos meses confirma os números desanimadores da economia brasileira. No primeiro semestre, o setor apresentou um crescimento próximo de zero. Mas em junho e julho, registrou uma queda expressiva, de pelo menos 10%. Os empresários não sabem precisar se essa retração é resultado das manifestações populares promovidas nos principais centros urbanos e rodovias do país. O que se percebe é um recuo do comércio, indicando um certo esgotamento da política econômica adotada pelo governo federal, baseada no estímulo ao consumo, com ampliação de crédito, redução de juros e desoneração de impostos.
Na Sete Lagos Transportes, por exemplo, que tem o seu mercado concentrado na região Sudeste, com 80% de carga fracionada e 20% direta, a percepção é de uma desaceleração mais forte nos últimos dois meses. "Foi uma queda acima do normal", indica o gerente regional de operações Maurício Martins de Abreu. Segundo ele, a empresa, que tem crescido uma média de 20% nos últimos cinco anos, tinha alcançado um incremento de 36% de janeiro a maio deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, graças a "investimentos em novas operações".
No entanto, em junho e julho, o crescimento foi de apenas 9%. "Não sabemos se essa queda é resultado das manifestações durante a Copa das Confederações", observa Abreu, ressaltando, no entanto, que "o comércio está vendendo menos, inclusive na região central de Belo Horizonte". Segundo ele, este recuo não é um fator isolado, observado apenas na capital mineira, mas também em outras praças, como as do Rio de Janeiro e São Paulo.
"O que temos ouvido é que o poder aquisitivo da população está diminuindo, que se endividou muito nos últimos tempos. A fonte se esgotou", alerta Abreu, em referência à política econômica dos últimos anos. Sua percepção confirma pesquisa realizada há cerca de um mês pela Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas), que apontou uma queda de expectativa do Produto Interno Bruto (PIB) do comércio no Estado de 3% para 1,5%.
Novos negócios - Diante das incertezas econômicas, Abreu disse que a alternativa da Sete Lagos, que tem entre seus clientes empresas de grande porte como a Iveco, a Itambé e a Companhia de Fiação e Tecidos Cedro Cachoeira, é investir mais em novos negócios, junto aos seus antigos parceiros. "Queremos agregar novos serviços, especialmente de logística, como o de armazenagem de motores", explicou.
A MVC Logística, que tem a Cesar Logística entre seus braços operacionais no segmento de terminal, também tem investido em novos negócios, para compensar o desaquecimento da economia. No entanto, os desafios são muitos, como observa o gerente comercial Jorge Batista Diniz. "A economia está morna e o nosso segmento reflete esse desaquecimento", aponta.
Segundo ele, a expectativa para este ano era de que haveria grandes serviços e novos negócios, mas tendo em vista o desempenho da economia, com um PIB estimado em pouco mais de 2% e uma inflação batendo a meta de 6,5% ao ano, as perspectivas não são muito animadores.
A empresa, que concentra metade dos seus negócios no segmento da construção civil, 30% no de alimentos e outros 20% em contêiner, fazendo a rota de Santos para o Triângulo Mineiro e região Central, apurou uma queda no volume transportado de cerca de 10% nesse primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período do ano passado.
No entanto, observa Diniz, a MVC Logística consegue manter o equilíbrio no faturamento, a partir de uma gestão mais eficiente, em que se busca redução de custos e aumento de produtividade. "Todo mundo está muito temeroso em relação à política econômica e aos números altos da inflação, que estão subindo. A solução é adotar uma administração mais enxuta", avalia.
Veículo: Diário do Comércio - MG