O negócio de shoppings é um dos mais rentáveis do mercado de varejo e da construção. A margem líquida das grandes empresas que constroem e administram esses empreendimentos gira em torno de 35% a 40%. Para efeito de comparação, em uma construtora rentável a taxa não passa de 15% - está em 13,5% na Cyrela. No negócio de varejo, a taxa está na faixa de 2%. Fica fácil entender porque varejistas e construtoras têm ampliado negócios na área. Nesse mercado altamente rentável, há empresas registrando resultados acima da média. Em comum está o fato de atuarem em segmentos de alta renda, os shoppings "premium".
São companhias com baixo endividamento, inadimplência em queda, taxa de ocupação subindo e principalmente, ritmo de crescimento das despesas operacionais abaixo do ritmo de expansão da receita. Números do terceiro trimestre publicados na sexta-feira pela Iguatemi reiteraram análises positivas do mercado, especialmente pelo seu nível de eficiência. A margem de lucro líquido operacional da Iguatemi foi de quase 90%, 3,4 pontos acima de 2012.
"Vemos a Iguatemi como o jogador mais defensivo no setor de shopping centers devido ao seu portfólio premium, que é voltado para o segmento de alta renda", escreveram os analistas do Banco Espírito Santo Eduardo Silveira e Gabriel De Gaetano. O lucro líquido ajustado (retirando a venda de um shopping em 2012) subiu 67,7%, para R$ 45 milhões. "A empresa possui um portfólio mais premium, se tornando mais resiliente à deterioração econômica [...], e ainda conta com uma dívida de longo prazo com custo baixo, tornando a empresa um ativo defensivo interessante", escreve em relatório o diretor da Ativa Corretora, Ricardo Correa.
A questão do nível de endividamento tem sido ressaltada por analistas do setor pelo impacto que passou a ter nos números, especialmente pelo ritmo de aberturas nos últimos anos, que exigiram investimentos altos. Empresas de capital aberto do setor estavam abrindo de dois a três shoppings por ano. São investimentos de até R$ 400 milhões. Entre as empresas com volume de dívida acompanhado com mais atenção pelo mercado está a BR Malls.
Balanço de resultados divulgado na semana passada mostrou que a BR Malls, com resultados operacionais fortes de julho a setembro, sentiu mais que outros concorrentes (como a Multiplan) o efeito da alta do dólar. A BR Malls sempre foi, de longe, a empresa mais agressiva em aquisições e parte dos recursos vieram do mercado. Sua dívida encerrou o terceiro trimestre 4,4% maior (para R$ 4,3 bilhões) e, segundo a Ativa Corretora, 25% do total está em dólar.
O lucro da empresa no terceiro trimestre caiu 9,8%, para R$ 90,8 milhões, em decorrência de fatores como o câmbio. Entre os pontos positivos destacados pelos analistas está a receita, com avanço de 15,8%, para R$ 322,4 milhões, e o fato de a companhia ter atingido o melhor índice de lucro líquido operacional (92,2%) desde 2007. O esforço para reduzir custos condominiais (num momento em que o setor reavalia formas de diminuir despesas) também foi destaque.
Com portfólio mais premium que a BR Malls e a Aliansce (e por isso menos vulnerável à volatilidades), a Multiplan teve alguns resultados de julho a setembro acima das expectativas de analistas. Com a ação mais cara do setor (R$ 50), a empresa apurou alta de 21% na receita e o lucro líquido avançou 20,3%, para R$ 86,7 milhões. É ligeiramente abaixo do lucro da BR Malls (R$ 90,8 milhões), que tem 34 shoppings a mais.
Veículo: Valor Econômico