Desde que a Apple apresentou o primeiro MacBook Air, em 2008, o consumidor passou a se sentir atraído por notebooks delgados, leves e bonitos. O interesse foi tanto que não demorou muito para que os demais fabricantes passassem a oferecer equipamentos semelhantes, dando origem a uma nova categoria de produtos, a dos ultrabooks ou ultrafinos. A Panasonic acredita, no entanto, que há uma grande oportunidade no extremo oposto desse espectro de leveza e fluidez - são os computadores robustecidos, destinados a missões de campo, que requerem um equipamento mais pesado e resistente. A tese é que não adianta empregar uma "top model" se a tarefa exige um lutador de MMA.
Batizada de Toughbook, a linha da Panasonic adota certificação militar e é usada pelo exército americano, entre outras forças de segurança. Isso diz muito sobre os requisitos do aparelho. O Toughbook pode cair de uma altura de até 1,80 metro e, em operação, aguenta temperaturas que vão de 28 graus centígrados negativos até 60 graus. Em descanso, o alcance é ainda maior: vai de menos 51 graus a 71 graus positivos.
"Isso é importante porque o equipamento pode embarcar em aviões militares, nos quais o controle de temperatura não é preciso, e começar a funcionar imediatamente após o desembarque, sob condições de temperatura adversas", diz o venezuelano Luis Viloria, diretor para América Latina da Panasonic System Communications of North America.
O interesse da Panasonic, porém, vai muito além das aplicações militares, como as áreas de petróleo e gás, e de energia. Sujeitas a interferências como poeira e luz do sol, essas atividades remontam à própria criação do Toughbook. O primeiro modelo, criado 18 anos atrás, foi feito para a British Gas, que precisava de um equipamento resistente e que tivesse um CD-Rom interno. Essa configuração se tornaria padrão mais tarde, mas na época era novidade. "Fomos os primeiros a criar um notebook com leitor de CD-Rom", diz Viloria.
A produção dos equipamentos é feita pela própria Panasonic, em duas fábricas, uma no Japão e outra em Taiwan. Tudo na linha de montagem, incluindo os robôs responsáveis pela manufatura, é fabricado pela Panasonic. É outro ponto em que a companhia nada contra a maré: nos últimos anos, boa parte dos fabricantes transferiu o processo de manufatura de seus equipamentos para empresas de produção sob encomenda, para reduzir os custos.
A decisão da Panasonic de manter a manufatura dentro de casa cumpre um papel estratégico, explica Viloria. Não é apenas a parte externa do notebook que precisa ser reforçada. Os componentes internos também seguem critérios especiais, o que exige acompanhamento direto da companhia. A percepção é que se um computador comum falha, o usuário fica irritado, mas é raro ter consequências mais sérias. No caso de missões críticas, como a exploração de petróleo ou o reconhecimento de uma área de conflito, um problema semelhante pode causar prejuízos milionários e até colocar vidas em risco. Segundo a Panasonic, enquanto a taxa média de falha em notebooks é de 14%, entre os modelos Toughbook a incidência de problemas é de 2%.
A Panasonic lidera o mercado global de notebooks reforçados. Na Europa, a participação de mercado é de 63%, segundo a consultoria VDC Research, e nos Estados Unidos, chega a 70%, o equivalente a uma receita de US$ 800 milhões por ano, de acordo com a Panasonic. Grandes companhias, como a Dell, já fizeram incursões no segmento, que também é disputado por marcas especializadas e menos conhecidas, como a Getac, de Taiwan. Outra concorrente, a americana GD-Itronics, abandonou o segmento neste ano.
A Panasonic soube aproveitar a liderança para se lançar a outra área de interesse crescente, a dos tablets reforçados, com a linha Toughpad. Na Europa, a Panasonic já detém 29% de participação na área, segundo dados da VDC.
Mas tanto nos notebooks quanto nos tablets, o principal adversário da Panasonic não é um fabricante rival. Por suas características, os equipamentos reforçados são mais caros. Nos EUA, enquanto alguns modelos do iPad custam entre US$ 700 e US$ 800, um Toughpad sai pelo dobro.
Por causa do preço, muitas empresas com trabalho em campo acabam optando por usar equipamentos comuns. "Essas companhias também se perguntam se precisam mesmo de toda a proteção [de um equipamento reforçado]", diz Rogerio Rosenveig, que dirige a unidade Toughbook no Brasil. O resultado, muitas vezes, é que ao primeiro problema mais grave, a companhia afetada acabe revendo sua planilha de custo, dando preferência a um aparelho robustecido. "É um daqueles casos em que o barato sai caro", afirma Rosenveig.
Veículo: Valor Econômico