Após algumas tentativas frustradas de voltar à atividade em 2008, a Gradiente sofreu mais um golpe na semana passada. Cansado de esperar por uma iniciativa da empresa, que não vem pagando os seus funcionários, o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho do Amazonas (MPT/AM), Audaliphal Hildebrando da Silva, pediu o confisco de cerca de dois mil televisores de plasma e LCD que estão nos estoques de sua fábrica, em Manaus.
"Esses televisores serão vendidos e o dinheiro será utilizado para pagar os funcionários da Gradiente", afirmou Silva ao Valor, por telefone. Segundo ele, a dívida trabalhista da empresa, que possui mais de 300 funcionários, está em torno de R$ 4 milhões.
Segundo informações veiculadas no site do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, o pedido do Ministério público foi executado na terça-feira da semana passada, quando 235 televisores de LCD e plasma foram removidos dos estoques da Gradiente. Procurada, a empresa não se manifestou sobre o assunto.
Em dezembro último, um representante do sindicato informou ao Valor que a Gradiente havia recebido uma encomenda para produzir 1,9 mil televisores de LCD. Na época, a empresa previa reabrir a fábrica na primeira quinzena de janeiro e prometera pagar os salários atrasados.
Segundo o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho, os televisores que estão nos estoques da empresa já estariam pré-vendidos. No entanto, a Justiça está à espera de maiores informações para avaliar o valor da mercadoria confiscada. Ainda não se sabe também para que comprador esses televisores foram comercializados.
Segundo Silva, o próximo passo do Ministério Público será o confisco do aluguel que a Gradiente recebe da Honda, fabricante de motocicletas que possui fábrica em Manaus. O imóvel está alugado por cerca de R$ 50 mil por mês. No ano passado, segundo o procurador, a Gradiente teria recebido o pagamento adiantado dos aluguéis por um ano. Em abril deste ano, quando o acordo será renovado, o Ministério Público quer intervir para que o valor do aluguel seja destinado aos trabalhadores.
A agonia da Gradiente já se arrasta por vários meses. Em meados do ano passado, a empresa apresentou dois novos planos de recuperação a seus credores e, em ambos, esperava por um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O socorro pedido ao banco estatal chegava a R$ 300 milhões, mas o projeto não foi adiante. O presidente da fabricante brasileira de aparelhos eletrônicos, Eugênio Staub, também buscou uma associação com um investidor estrangeiro. Especulou-se no ano passado de que ele iniciara negociações com um empresário indiano, mas que não avançaram.
Mesmo tendo paralisado sua produção e não divulgar mais os seus balanços, as ações ON da Gradiente ainda são negociadas na Bovespa. Ontem, os papéis fecharam a R$ 2,30, em alta no dia de 1,32%. Neste ano, porém, as ações já caíram 15,7%. Considerando o preço das ações, a Gradiente valeria R$ 28,8 milhões.
Veículo: Valor Econômico