CitrusBR investe um milhão de euros em campanha de comunicação para fomentar consumo de suco de laranja na União Europeia; projeções para 2015 dependem da oferta e nível de estoques
Diferente da opinião de muitos produtores, "a crise na citricultura brasileira vem da demanda e ponto". É o que afirma o diretor executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto.
Em entrevista exclusiva ao DCI, o executivo da entidade que representa as indústrias de suco de laranja no País conta que, se comparada a performance do setor na safra 2013/2014 à média do período entre 2004/2005 e 2006/2007, o mundo deixou de consumir 75 milhões de caixas da fruta anualmente.
"Isso significa 300 mil toneladas de suco por ano. Se adicionássemos este percentual à oferta que temos hoje no mercado, os estoques estariam secos. Não teríamos como atender a demanda", enfatiza Netto.
O diretor lembra o posicionamento da cadeia produtiva que muitas vezes atribui à indústria a falta de repasse de pagamentos mais atrativos à matéria-prima e ressalta que a associação também age como "tomadora de preços" no mercado internacional. Segundo ele, a prática de valores mais altos para o comprador final torna-se inviável em vista do atual cenário de queda na demanda externa.
Neste cenário, grande parte da produção é comercializada abaixo de R$ 11,45, preço que corresponde ao mínimo estabelecido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), fazendo com que os citricultores dependam de ações do governo, como os leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro), para cobrirem os desembolsos com a lavoura.
Causas
Questionado sobre as principais causas do recuo na demanda externa, Netto destaca três questões: concorrência, crise econômica e mudança de hábito do consumidor.
"Atualmente, existe uma grande oferta de bebidas que podem substituir o suco de laranja, como o leite e o iogurte. Além disso, nenhuma crise favorece a economia de ninguém e ainda existe uma mudança nos hábitos de consumo. A figura da família reunida para o café da manhã com o suco está deixando de existir por conta da correria do cotidiano, outros produtos como o cereal também estão tendo problemas por esse motivo", explica o executivo.
Saída
Na visão da CitrusBR, a melhor medida emergencial para o momento é investir na busca de recuperação na demanda do principal mercado importador do suco nacional, a União Europeia, que absorve 70% das 1,08 milhão de toneladas exportadas pelo País.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) em Santos mostram que nos últimos dez anos os embarques de suco de laranja caíram cerca de 41,9% para a Europa e, em contrapartida, subiram 40,9% para a América do Norte. Porém, só no primeiro trimestre da safra 2014/2015, o mercado europeu importou 152,1 mil toneladas do produto contra 71 mil toneladas adquiridas pelos norte-americanos.
"Estamos com uma campanha de marketing na qual investimos um milhão de euros nesse primeiro ano para que o europeu e o americano voltem a beber suco como antes, focada em médicos e nutricionistas que desfaçam a ideia de que o produto tem altos teores calóricos e venha uma onda positiva de consumo", diz, sobre a ação lançada em 2014.
Vale lembrar que o suco vendido para os Estados Unidos é utilizado para bland com a produção nativa da Flórida, que corresponde a apenas 30% do mercado daquele país.
Investir no consumo doméstico seria "o melhor dos mundos", afirma Netto, mas o aumento da comercialização aqui esbarra em questões tributárias como PIS e Cofins. Outros emergentes, como China, países do Oriente Médio e asiáticos ainda têm um potencial atrativo para longo prazo.
Veículo: DCI