O mercado de feijão vive de sobressaltos e neste final de ano deverá ocorrer mais um. Pesquisa de preços diária realizada pela Folha aponta nova aceleração de preços, com a saca já atingindo até R$ 150 em algumas regiões produtoras. Os preços médios atuais estão em R$ 135 por saca, com alta de 26% em uma semana.
Marcelo Lüders, analista da corretora Correpar, diz que os bons preços do produto em 2013, quando o feijão perdeu área para a soja, incentivaram o plantio.A produção aumentou e o governo reajustou o preço mínimo para R$ 95 por saca, mas teve pouca ação para enxugar o excesso do mercado.
O resultado foi uma queda nos preços da leguminosa e um desestímulo ao plantio já na terceira safra deste ano. Além dessa redução, a cultura foi afetada também por problemas climáticos.Com isso, não está chegando ao mercado um volume satisfatório de feijão como ocorre neste período do ano, puxando os preços para cima.
Lüders diz que o problema é que, mesmo com elevação de preços, o consumo não recua. Na safra 2013/14 o país consumiu 3,45 milhões de toneladas de feijão, ficando na média anual de consumo dos últimos dez anos, que também foi de 3,45 milhões.
No início da década passada, o consumo era de 2,88 milhões de toneladas, aponta a Embrapa Arroz e Feijão.O pico da demanda ocorreu em 2010/11, quando foram consumidos 3,6 milhões de toneladas. A safra inconstante, no entanto, obriga o país a importar feijão para complementar a demanda.
Mas Lüders diz que a cadeia do feijão está buscando alternativas para dar um equilíbrio melhor de oferta no mercado e evitar esse sobe e desce nos preços.Entre as alternativas estão a produção e o incentivo para consumo de novas variedades de feijão, como o "vermelho", o "jalo" e o "rajado".Essas novas variedades, já na mira da Embrapa e do IAC (Instituto Agronômico), permitiriam ao país se inserir mais no mercado externo, exportando o excesso e importando no período de falta.
Lüders diz que hoje o consumidor brasileiro está muito preso no feijão "carioquinha", um produto tipicamente brasileiro. Além da difi- culdade para exportar esse feijão, em período de excesso de produção, há dificuldades na importação.Para Lüders, essas novas variedades são importantes porque estudos indicam que o consumo de feijão, ao contrário do que se imagina, vem crescendo.
A oferta de novas variedades vai gerar demanda maior, ampliação de área de plantio e preços mais acessíveis aos consumidores. Além disso, o governo destinará menos subsídios para garantir o produto no mercado. Toda a cadeia ganha, conclui.
Veículo: Folha de S. Paulo