Para especialistas, empresas brasileiras podem avançar nos mercados canadense e mexicano por meio de acordos de complementação de comércio, além da internacionalização de companhias
A reaproximação das relações de comércio entre o Brasil e os Estados Unidos pode abrir mercados aos empresários brasileiros no Canadá e no México, dizem especialistas. O avanço nessas economias pode ocorrer tanto por acordos de complementaridade de comércio, como pela internacionalização de empresas brasileiras, que acaba promovendo um aumento dos fluxos de capitais entre companhias.
Na última quinta-feira, em viagem aos Estados Unidos, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Armando Monteiro, afirmou que não vê muita chance de fechar um acordo de tratado tributário com o país parceiro no curto prazo, segundo informou a agência Reuters.
De acordo com o ministro, o tratado eliminaria a dupla taxação de receita, algo que, atualmente, desestimula as empresas norte-americanas a investir no Brasil. No entanto, após se reunir com autoridades norte-americanas, ele disse que é possível avançar em negociações de facilitação comercial e de convergência regulatória entre os dois países.
Para especialistas entrevistados pelo DCI, a retomada das relações entre o Brasil e os EUA abre possibilidades para que as empresas do País avancem nas demais economias que integram o Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio (Nafta), o Canadá e o México.
A corrente de comércio brasileira com o bloco cresceu cerca de 30% entre os anos de 2010 e 2014, e passou de US$ 59,327 bilhões para 76,506 bilhões, no período. O déficit da balança comercial, por sua vez, teve redução nos últimos cinco anos, e foi de US$ 8,239 bilhões negativos, em 2010, para US$ 960 milhões, também negativos.
Para o professor de relações internacionais da Anhembi Morumbi, Arnaldo Francisco Cardoso, uma das formas de melhorar esses números é fortalecer e elevar os acordos de complementaridade de comércio entre os países. "É importante que o Brasil realize acordos em torno de setores que apresentam um grau de desenvolvimento semelhante às das indústrias mexicanas e canadenses", afirma Cardoso.
"Um desses setores é o automobilístico, seja na exportação de produtos finais como de mercadorias correlatas, como a de autopeças. Além disso, outras áreas com competitividade semelhante é a indústria química, petroquímica e de fertilizantes", exemplifica.
Internacionalização
O professor da Anhembi Morumbi pontua também a importância da internacionalização de empresas brasileiras para os mercados do Nafta como forma de aumentar o comércio do País. "O aumento do fluxo de capitais entre empresas desencadeia a expansão do comércio. Um exemplo disso é o sudeste asiático que, ao ampliar investimentos produtivos em outros mercados, conseguiu alavancar um crescimento das suas trocas comerciais", explica Cardoso. "Essa é uma forma também de desverticalizar o comércio", completa.
O professor dá o exemplo da Marcopolo, fabricante brasileira de ônibus que, atualmente, possui várias plantas industriais pelo mundo, como na América Latina e na África.
Já o diretor do MBA executivo da Fundação Álvares Penteado (FAAP), Tharcisio Souza Santos, destaca que o Brasil pode avançar nas exportações de tecnologia ao Canadá. "É possível ganhar competitividade na área de tecnologia. E os canadenses têm manifestado interesse pelos produtos brasileiros nesse setor", diz Santos.
Para ele, a pré-disposição do ministro do Desenvolvimento em se reaproximar dos Estados Unidos é uma boa sinalização. "Resta saber como o andamento das negociações entre o Brasil e os EUA se darão daqui para frente. Além disso, estamos passando por diversos problemas, como a crise da Petrobras e o baixo desempenho econômico do País", finaliza o professor da FAAP.
Veículo: DCI