Indústria poderá usar a desvalorização do câmbio como estratégia para retomar a competitividade de seus produtos
O atual exercício promete muitos desafios para os diversos segmentos da economia. Mas, se por um lado, a alta dos impostos atrelada ao aumento dos juros ao maior comprometimento de renda da população e a menor confiança dos investidores no país poderão comprometer o desempenho das empresas nacionais, por outro, a alta do dólar frente ao real poderá beneficiar as exportações. A indústria do vestuário mineiro é uma das áreas que poderá usar a desvalorização do câmbio como estratégia para retomar a competitividade de seus produtos no decorrer deste ano e diminuir os efeitos da crise sobre seus negócios.
A afirmação é da vice-presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário no Estado de Minas Gerais (Sindivest-MG), Elizabeth Faria. Segundo ela, atualmente, os embarques do setor em Minas para o exterior não chegam a 10% do total da produção, índice que já foi bastante superior no início dos anos 2000.
"O cenário dos últimos anos não foi favorável à manutenção das vendas no mercado externo. Mas, agora, o mercado começa a sinalizar uma nova aceitação. Por isso, os empresários precisam estar atentos às oportunidades de investimentos para o retorno de pelo menos parte da competitividade de seus produtos. Diante disso, entre este exercício e o próximo é possível que os embarques aumentem em até 15%", estima.
Segundo Elizabeth Faria, além do mercado internacional, o mercado interno também deverá ser beneficiado com a valorização do dólar. que ao mesmo tempo em que a variação cambial favorecerá as exportações também dificultará as importações. "Mesmo as indústrias que não se interessarem por vender seus produtos lá fora precisam estar preparadas para o aumento da demanda, porque o mercado interno também poderá ser incrementado, já que a busca em outros países tende a diminuir", diz.
Mesmo assim, a vice-presidente pondera que ainda é cedo para traçar quaisquer perspectivas quanto ao desempenho do setor neste ano. Ela ressalta que 2014 foi um ano bastante atípico em função da Copa do Mundo e das eleições. Diante disso, o setor amargou retração de 15% no fechamento do exercício.
"Com tantas situações diferentes e a própria desaceleração da economia nossos clientes diminuíram seus pedidos e as perdas no encerramento do ano foram inevitáveis. Mas, esta não é a primeira nem a última crise pela qual passamos. Por isso, sempre digo aos nossos associados é que é precisamos ser otimistas e adotar ações estratégicas. Transformar as adversidades em oportunidades", orienta.
Vivaz - Isto é o que será feito na Vivaz, indústria do vestuário sediada em Belo Horizonte, da qual Elizabeth Faria é proprietária. De acordo com a empresária, a empresa já exporta seus modelos há oito anos e deverá ampliar sua participação no mercado internacional em 2015. Ela acredita que a experiência e a presença em alguns países poderão funcionar como facilitadores do processo.
" claro que como a crise funciona em efeito dominó, as conseqüências negativas também chegaram até nós, tanto que encerramos 2014 com estabilidade nos negócios frente a 2013. Mas, agora, cabe à nossa equipe buscar diferenciais para enfrentar essas adversidades. E é o que já estamos fazendo, pois sabemos que o mercado poderá nos surpreender", aposta.
Atualmente a Vivaz comercializa seus produtos em todo o território nacional e em países do Oriente Médio. Ao todo são 140 pontos de vendas multimarcas no Brasil, além de uma loja própria e uma uma fábrica de 1,7 mil metros quadrados em Belo Horizonte.
Apesar do potencial que a alta do dólar vai proporcionar às empresas em relação aos investimentos em exportações, a ação não está nos planos da Modelitos Confecções Ltda (Alphorria). A diretora de Marketing da marca, Wanessa Cabidelli, explica que o motivo diz respeito à experiência vivida pela empresa em outras épocas.
Segundo ela, quando a Alphorria apostava no mercado externo, as vendas para outros países representavam apenas 5% de toda sua produção e exigia uma série de medidas burocráticas que não surtiam tanto efeito. Até que chegou em um ponto que a diretoria optou por não mais embarcar seus produtos.
"Já faz dez anos que paramos de exportar. que o processo de exportação exige mudanças e ações que demandam tempo e investimento e 5% não justificava o esforço. Percebemos que o mercado externo mais nos atrapalhava do que ajudava", diz.
Assim, embora não pretendam voltar suas atenções para outros países, a empresa vai usar a variação cambial em seu favor, a partir do aumento da demanda no mercado interno. "Sabemos que 2015 vai ser difícil mas, por se tratar do ano do nosso 30º aniversário, estamos preparando uma série de ações de relacionamento com nossos clientes que poderão nos proporcionar algum incremento. Estamos cautelosos e acreditamos que um empate técnico ao final deste exercício já vai estar de bom tamanho", completa. No ano passado a empresa cresceu 4%.
Veículo: Diário do Comércio - MG