Setor de serviços puxou a reação do mercado formal em março, quando o Brasil abriu 19.282 vagas, mas resultado foi insuficiente, com a eliminação de 50,3 mil postos no primeiro trimestre
Depois de três meses em queda, o nível do emprego formal no Brasil voltou a crescer em março, mas foi insuficiente para reverter o saldo (diferença entre as contratações e demissões), ainda negativo no acumulado do ano. No mês passado, foram criados 19.282 postos de trabalho, informou, ontem, o Ministério do Trabalho, com base nos registros do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O setor de serviços pode ser considerado a estrela das admissões no período. Já no balanço do primeiro trimestre do ano, a retração alcança 50.354 vagas. É o pior resultado desde o início da série histórica do levantamento em 2002.
De janeiro a março do ano passado o país abriu 344,98 mil postos formais. “O Caged mostra uma recuperação em março. Em janeiro, houve redução na geração de postos de trabalho e em fevereiro tivemos uma estagnação. Começamos uma recuperação e abril será melhor do que março”, disse o ministro do Trabalho, Manoel Dias. Ele não quis fazer uma previsão do resultado total dos empregos este ano. “Já entrei nessa e não deu certo. Ainda é muito cedo, lá para maio talvez já tenhamos uma estimativa”, afirmou.
Dias tentou minimizar a crise da economia brasileira: “estamos vivendo uma crise política que impacta também o econômico. Quem iria comprar automóvel e casa adiou as compras. Assim como os investidores adiaram investimentos. Abril certamente será melhor que março”, frisou. Os principais setores responsáveis pelo aumento do emprego no mês passado foram as empresas prestadoras de serviços, com abertura de 53.778 postos; administração pública, 3.012 vagas; e comércio com 2684 novos empregos formais. A construção civil e a indústria de transformação exibiram desempenho negativo no mês, ao fecharem 18.205 e 14.683 postos de trabalho formais, respectivamente.
O desespero por não encontrar trabalho tem levado trabalhadores em Belo Horizonte a aceitar, muitas vezes, uma ocupação com remuneração mais de 50% inferior aos ganhos em empregos anteriores. É o caso do auxiliar de vendas Felipe Fernando de Souza, de 30 anos. Ele conta que ficou sete meses desempregado, e com as contas a pagar e dois filhos para criar não poderia dispensar a vaga oferecida em uma empresa de telemarketing, mas continua em busca de algo melhor.
“No meu outro emprego, ganhava cerca de R$ 2 mil, e em setembro do ano passado, por causa da crise econômica , a empresa mandou embora cerca de 200 pessoas. A justificativa foi contenção de custos”, afirma. Durante sete meses, ele diz que espalhou currículos por toda a cidade e não foi chamado para nenhuma entrevista.
O professor de trabalho e economia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos afirma que num contexto de recessão será muito difícil gerar mais empregos no país. “A família quando teme o desemprego, não compra. Isso começará a afetar o setor de serviços e comércio”, disse. Ele observou que o aumento dos juros prejudica a oferta de empregos, que vai depender do crescimento da economia.
Veículo: Estado de Minas