Segundo especialistas consultados pelo DCI, a recuperação da atividade industrial não deve vir do mercado doméstico, que continuará sofrendo com a economia enfraquecida
A indústria brasileira deve registrar novamente um desempenho negativo neste ano. Para especialistas consultados pelo DCI, a recuperação da atividade industrial deve vir só a partir de 2016, através do aumento das exportações. "O mercado brasileiro continua forte, mas é difícil imaginar que a retomada da indústria virá do âmbito doméstico. Uma melhora deste cenário só ocorrerá na esteira do aumento das exportações", afirma o sócio da GO Associados, Fábio Silveira.
Para o economista da Pezco Microanalysis, João Costa, a estratégia da indústria deve passar pela busca por novos mercados externos para utilizar a capacidade ociosa local, porém, essa tarefa não será fácil. "Por muitos anos, o Brasil ficou parado no tempo e agora está tentando correr atrás", afirma.
De acordo com projeção da GO Associados, neste ano a atividade industrial deve recuar 3,7% sobre um 2014 também de retração. "Houve uma piora considerável da indústria, com queda da produção e do nível de emprego, o que se estendeu agora para comércio e serviços", acrescenta Silveira.
Diante do quadro, o economista da GO Associados pondera que o mercado interno não será suficiente para alavancar a recuperação do setor. "Em um ano de fortes ajustes, a queda da massa salarial deve persistir, assim como a contração do crédito e a elevação do desemprego. Tudo isso temperado com aumento dos juros para combater a inflação", destaca o consultor.
Segundo o analista da Pezco, a indústria brasileira não consegue crescer, de fato, há sete anos. "Com a perspectiva de retração do PIB em 1,5% para o ano e inflação chegando a casa dos 9%, a atividade industrial é cada vez mais jogada para baixo", pontua Costa.
Ele acrescenta que, além da demanda fraca, as indústrias ainda terão que arcar com aumento do custo de energia elétrica e do combustível, movimento que se desdobra por toda a cadeia produtiva devido à elevação do custo do frete.
"As empresas terão que enfrentar um cenário bem difícil no ano", comenta Costa. Para Silveira, a indústria terá que recuperar a competitividade para crescer em um ambiente altamente hostil. "A retomada terá que começar da porta para dentro", diz o economista.
E com as recentes medidas de ajustes fiscais, os possíveis estímulos governamentais na forma de investimentos ficaram ainda mais distantes. "Os cortes do governo foram de má qualidade e pioram ainda mais o cenário", pondera Costa.
Silveira reforça que os investimentos públicos não devem vir neste ano. "Seria excesso de imaginação pensar que estímulos públicos virão neste ano. No máximo, podem começar a ocorrer em 2016", opina.
Dólar
Para o economista da Pezco, a valorização do dólar traz algum alento, porém, não o suficiente. "A inflação vem corroendo boa parte destes ganhos. O câmbio andou, mas a inflação andou muito mais", avalia Costa.
As montadoras constantemente ressaltam as perdas que a inflação trouxe para as exportações do setor que, em 2005, somavam um milhão de unidades, em meio a um patamar de câmbio que girava a R$ 2,50.
E mesmo com o dólar atual, as vendas externas de veículos não conseguem atingir 400 mil unidades por ano.
Uma projeção da GO Associados indica que o real deverá apresentar desvalorização média de 35% neste ano em relação a 2014. "Mas os juros continuarão altos, o que deve anular o efeito da apreciação do dólar", pondera Silveira.
Recuperação setorial
Apesar das dificuldades macroeconômicas, Silveira avalia que a valorização do dólar deve impulsionar primeiramente a retomada de alguns segmentos da indústria a partir do segundo semestre do ano que vem, como é o caso de bens de consumo.
"Os fabricantes de calçados e têxteis, por exemplo, deverão se beneficiar primeiro com a apreciação do dólar, já que deve ocorrer um recuo imediato das importações e aumento das exportações", destaca Silveira.
Ele acrescenta que a retração da economia brasileira irá resultar em uma menor demanda por petróleo e derivados, o que deve reduzir as importações nesta área e, consequentemente, melhorar a balança comercial. "Isso deve ajudar a melhorar a situação do País", diz.
Na opinião do economista da GO Associados, outra saída para amenizar a grave situação em que a indústria brasileira se encontra é ampliar o acesso ao crédito. "O governo deveria reduzir o custo do financiamento para a competitividade do setor começar a melhorar", destaca.
Para o consultor da Pezco, o Brasil precisa ampliar ainda o número de acordos bilaterais para alavancar as exportações, hoje restritos.
"Estamos muito presos no âmbito do comércio exterior e isso prejudica a indústria local", pondera Costa. Ele afirma ainda que a articulação política internacional do Brasil já é extremamente difícil.
"O governo precisa se convencer de que estimular as exportações é necessário para a atividade industrial, principalmente para ocupar a capacidade ociosa", avalia o economista. "Mas é preciso esperar para ver se o governo está realmente convencido de que esta é a principal saída", complementa.
Veículo: DCI