O crediário, que no passado ajudou a impulsionar as vendas, possibilitando a concessão de maiores prazos aos clientes, perdeu espaço em muitas redes varejistas - especialmente nas menores, que têm menos recursos financeiros e operacionais.
Com a disparada da inflação e o avanço do desemprego, o risco de inadimplência aumentou, passando a demandar uma análise de crédito mais aprofundada por parte dos lojistas.
Redes que possuem modelos de avaliação mais maduros, que consideram não só fatores internos, mas variáveis externas ao negócio, têm condições de tomar decisões mais apuradas e fornecer mais prazo aos clientes, mesmo em um ambiente com maiores riscos, aponta Eduardo Tambellini, sócio-diretor da consultoria GoOn Risk.
"Por outro lado, o comerciante que faz a análise apenas consultando birôs de crédito, para saber se o cliente está com o nome sujo, acaba tratando todo mundo da mesma forma e não consegue alongar os prazos para ninguém", explicou.
Mesmo nas grandes redes, no entanto, a participação dos crediários nas vendas vem diminuindo. Dados da Via Varejo, administradora das Casas Bahia e do Ponto Frio, mostram que, enquanto no terceiro trimestre de 2008, época do boom do crédito, os carnês foram responsáveis por 37,3% das vendas, no mesmo período do ano passado, representavam somente 14,6% dos negócios.
Os crediários também podem ser fornecidos por meio das máquinas de cartão, como uma opção ao débito e o crédito. Nesse caso, os recursos vêm do banco, ao invés da rede varejista, e são fornecidos como um empréstimo pessoal, que precisa ter o limite pré-aprovado e é debitado diretamente na conta do correntista da instituição financeira.
Segundo Rodrigo Cury, superintendente executivo de cartões do Santander Brasil, essa modalidade também está perdendo espaço. "Hoje, o lojista possui modalidades de parcelamentos mais atrativas tanto para ele como para o cliente se comparado com o crediário, disponível nas maquininhas de cartões", afirmou o executivo.
Em seu site, o Santander informa que o pagamento da primeira parcela do crediário pode ser feita em até 40 dias e que a linha não tem tarifa.
Mercado fraco
A deterioração da economia reduziu a demanda e, consequentemente, as vendas em todos os setores. Se antes, quando não conseguiam escoar suas mercadorias, as redes varejistas recorriam ao alongamento de prazos, seja por meio do crediário ou outras vias de crédito, para impulsionar as vendas, com o aumento dos riscos, essa possibilidade passou a ficar menos acessível.
As redes maiores, que possuem maior poder de barganha e conseguem negociar melhores condições com os fornecedores, além de obter empréstimos (seja no mercado financeiro, seja no mercado de capitais) a taxas mais acessíveis, têm mais espaço para conceder crédito, aponta Miguel de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
"As menores, por outro lado, que dependem de financiamento bancário para dar crédito aos clientes e não conseguem taxas acessíveis, ficam de mãos atadas", observou.
Escalada dos juros
Além da maior seletividade para a liberação de crédito, outra consequência do aumento do risco de inadimplência foi o avanço dos juros. O Banco Central (BC) mostra que os juros médios do mercado com recursos livres (em que as taxas são definidas pelo concedente do crédito) subiram de 51,1% em novembro de 2014, para 49,6% no ano passado.
Segundo a Anefac, enquanto em janeiro do ano passado a taxa média do crédito nas grandes redes estava em 2,71%, em dezembro passaram para 3,02%. Nas redes pequenas, o avanço foi ainda maior, saindo de 5,80% para 6,51%.
"As pequenas estão sendo exprimidas pelos bancos, que as financia, de um lado, e por problemas na venda de outro", afirmou Oliveira. "Elas estão fechando unidades, reduzindo estoques, cortando funcionários para tentar passar por esse momento. Para continuar fornecendo crédito, elas precisam aumentar as taxas de juros", completou o executivo.
Veículo: Jornal DCI