Nos últimos oito meses, os R$ 100 mil investidos na Agroindústria Novo Horizonte, localizada no município gaúcho de Doutor Ricardo, começaram a dar frutos. Na verdade, legumes, cebola, couve-flor, pepino, cenoura e brócolis, produzidos na região e vendidos em conserva.
O negócio que começou como venda direta, hoje vai para padarias e, neste ano, deve chegar ao varejo.
São histórias como essa que justificam o avanço de 3% no volume de crédito liberado pela cooperativa de crédito rural Sicredi, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) no primeiro semestre desta safra, para R$ R$ 1,681 bilhão.
Durante a feira Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS), a instituição financeira divulgou o balanço semestral que indica uma retração de 5% no total de financiamentos ofertados pelo banco, para R$ 5,398 bilhões. Além dos pequenos, só os agricultores do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) tiveram desempenho positivo, com um salto de 25% na variação anual, para R$ 1,172 bilhão. O proprietário da Novo Horizonte, Ademir Radaelli, é um dos 220 expositores de um pavilhão dedicado a este setor na feira. Segundo ele, no ano passado, eram 180.
"Nosso negócio tem oito anos e é minha primeira vez neste evento. Há um ano e meio decidimos fazer um financiamento pelo Pronaf Mais Alimentos para legalizar a agroindústria. Regularmente, estamos trabalhando há oito meses", conta. Radaelli, que também é coordenador do Sicredi para a região de Vales, tomou o crédito com juros fixos de 2% ao ano para a construção do estabelecimento e regularização burocrática.
Em uma propriedade de meio hectare, couve-flor, cenoura, pepino e brócolis são cultivadas no inverno. No verão, apenas a cebola. Todo o plantio é feito com recurso próprio. Sem precisar a receita, ele afirma que a produção é de 2,5 mil quilos por mês.
Também por meio do Sicredi, a Agroindústria Doces Silber tomou forma entre os anos de 2010 e 2011. O proprietário, Luiz Bernardi, começou com uma plantação de uvas e mirtilo - mais conhecido como blue berry - na cidade de Flores da Cunha (RS), próxima de Duque de Caxias.
"Como o mirtilo não é muito conhecido, chegamos a jogar a fruta fora porque não tinha demanda. Eu e minha esposa tivemos a ideia de aproveitar o produto e fazer uma geleia em casa, vender barato, só para ver se tinha saída. Vimos que teve aceitação e entramos no Mais Alimentos para criar a agroindústria", lembra Bernardi.
Cerca de R$ 57 mil foram tomados pela instituição financeira para atingir os R$ 65 mil destinados ao investimento, a diferença foi composta por recursos próprios. Atualmente, o mirtilo é cultivado em um hectare, a uva em três hectares, e a geleia feita em um processo todo artesanal é comercializada em feiras, pontos de venda no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Mensalmente são produzidos 800 quilos de matéria prima, que desencadeia um faturamento anual em torno de R$ 60 mil.
Também são adquiridas frutas dos vizinhos, como pêssego, morango e figo, para variação dos sabores da marca.
Para o diretor executivo do Sicredi Alto Jacuí (RS), Nerio Heller, os "pronafianos" perceberam as vantagens das linhas de crédito e, por isso, apostam nos investimentos. Taxas de juros muito competitivas, em relação à Selic, são um dos principais fatores que tem motivo este elo da cadeia produtiva mesmo diante de um cenário macroecômico em crise.
Ao DCI, os produtores disseram que sentem o efeito negativo da crise, refletido em menor demanda pelos produtos comercializados. Mesmo assim, estes e outros seguem em expansão nas modalidades de negócios, não em infraestrutura, mas em comercialização.
"Hoje o produtor trabalha com alta tecnologia e não deixa a desejar em relação aos de maior porte. Acreditamos que a baixa nas demais linhas de crédito do banco está mais atrelada à instabilidade da economia, que tem limitado os investimentos", diz Heller.
Veículo: Jornal DCI