A tomada de crediário ganha espaço como alternativa para driblar a crise. Apesar das taxas de juros mais altas, os consumidores têm a vantagem do "parcelamento que cabe no bolso" e lojistas aproveitam a modalidade para melhorar vendas e fidelizar clientes.
Segundo Flavio Peralta, vice-presidente comercial da Multicrédito, apesar de pouco divulgado no País, o crediário tem crescido. "Por um lado, o crediário se fortalece no mercado informal e nos clientes não bancarizados, que encontram nesse crédito uma condição melhor de pagamento. Por outro lado, o lojista o vê como uma opção de fidelizar o cliente e ter oportunidades de venda. Quando o cliente volta na loja para pagar a parcela, é a chance de ofertar um produto novo ou em melhores condições com o crediário da loja", identifica Peralta.
Em 2014, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), só 10% dos consumidores brasileiros afirmara fazer compras no crediário com frequência.
Um estudo feito pela Multicrédito, no entanto, aponta que já no segundo semestre de 2015, muitos dos consumidores já haviam relegado o uso do cartão de crédito para aderir ao crediário e que, dos 1.168 consumidores analisados, 42% o buscaram como saída para quitar débitos feitos por descontrole financeiro.
"O crediário sempre cresce em época de crise pois, como trabalha em cima de parcela, o consumidor consegue se recuperar mais facilmente. Além disso, a gente percebe um aumento de vendas do crediário que, tendo crescido 4,9% no segundo semestre do ano passado, continua agora com uma projeção nossa de 26% até o final do ano. Em segundo lugar, os lojistas também veem oportunidade, com um aumento de 53% de procura", conta Peralta.
Em relação aos juros, de acordo com levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), todos os tipos de loja que oferecem crediário aumentaram suas taxas de juros no mês.
"Para o lado do consumidor, como estamos com essa questão de taxas de juros muito mais altas, nessa hora vale muito mais a pena juntar dinheiro pra comprar à vista", diz Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.
Inadimplência
Somada ao crédito ruim, a lei do aviso de recebimento coloca a tendência do mercado voltada para a cautela. "Apesar de a gente ainda não ter visto uma queda na concessão de crédito influenciada pelo AR [Aviso de Recebimento], dá pra saber que essa situação tem potencial de piora. O crédito está caindo fortemente, as lojas estão com menos dinheiro, os consumidores estão tendo dificuldades e o aviso de recebimento só põe lenha nessa fogueira", ressalta Marcela.
A lei do aviso, que vigora desde janeiro do ano passado, impõe que só podem ser incluídos nos cadastros negativos dos birôs o inadimplente que for notificado por carta e assinar a confirmação. Caso o devedor não assine a correspondência, independente do motivo, seu nome não poderá constar como mau pagador.
Peralta ainda ressalta que "todo o cuidado é pouco" e que "é importante o investimento em novas tecnologias" por parte dos lojistas.
"A ferramenta que nós disponibilizamos, por exemplo, oferece a captura da foto do consumidor, fazendo uma varredura no sistema para identificar fraudadores por meio da biometria facial. Isso inibe os mal intencionados e facilita para o lojista em relação ao sistema de fraudes de inadimplência no momento mais importante da concessão do crediário, por exemplo, que é a hora do cadastro", conclui ele.
Veículo: Jornal DCI