O impeachment da presidente Dilma Rousseff é bem-visto pelo mercado financeiro, mas não garante a retomada da confiança dos investidores, avaliou Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating. “A sinalização tende a ser positiva. O mercado vai dar mais um voto de crédito. Mas o governo precisa fazer reformas”, declarou.
Segundo o economista, a expectativa é de que o trâmite do processo de impeachment no Senado tenha placar mais apertado do que teve na Câmara dos Deputados. Mas, uma vez aprovado, o novo governo teria que sentar numa roda de negociação com líderes de todos os partidos apoiadores do processo, mostrando coesão em torno de um novo projeto para o País. “Foi isso que o PT não fez e que talvez tenha sido o grande erro deles. O PMDB viu que tem que ser dessa forma”, opinou.
Um possível governo Temer deveria, na avaliação de Agostini, anunciar medidas focadas na redução da máquina administrativa, do número de secretarias de Estado e de cargos comissionados; discutir a arrecadação, que poderia ter como uma das soluções a CPMF; fazer a reforma de programas sociais, com a criação de formas de monitoramento; e iniciar a discussão sobre a reforma da Previdência.
“O PMDB vai tentar resgatar a confiança do empresário e do mercado através dessas e de outras medidas, como a questão do equilíbrio fiscal, que é fundamental, que todo mundo já mencionou. Mas, se ficar só na discussão, se não colocar na prática, o mercado azeda de novo. Ele (o mercado financeiro) não tem amor ao partido, ele tem amor ao dinheiro”, ressaltou Agostini.
Mesmo que uma próxima equipe política e econômica consiga avançar nas reformas consideradas necessárias pelo mercado financeiro, não será fácil recuperar a credibilidade perdida com os investidores.
“De fato, o processo (de impeachment) foi desgastante. Em 2015, o Brasil perdeu o grau de investimento. Então, o primeiro caminho vai ser recuperar, mas não será amanhã, nem ano que vem, nem em 2018. Isso só se dará no dia a dia”, previu o economista-chefe da agência de classificação de risco.
Segundo Agostini, a expectativa é que o País recupere o selo de bom pagador apenas em 2020. “Até 2018, a gente enxerga o governo ainda muito endividado”, disse ele.
A outra prioridade seria recuperar a credibilidade moral, abalada pelo segundo impeachment de um presidente brasileiro em pouco mais de duas décadas, mas fundamental para recuperar os investimentos.
“Mas é muito subjetiva (a credibilidade moral), porque não tem como apontar. O tempo vai mostrar se houve amadurecimento ou não do sistema político brasileiro. Isso vai demorar muito mais tempo, porque vai ficar a discussão se (o impeachment) foi legítimo ou não”, acrescentou. “Não tem como falar se o Brasil vai sair fortalecido. Só o tempo vai dizer”, completou.
Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG