Diante das dificuldades enfrentadas pelo varejo de bens duráveis, em meio à recessão, as empresas do setor estão reestruturando os negócios. A redução de custos e a negociação consignada com a indústria são algumas das alternativas para sobreviver à crise.
"Por ser um segmento que depende muito do mercado de crédito, do crescimento do emprego, e pelos produtos serem de 'segunda necessidade', este setor deve demorar mais do que o restante do varejo para retomar o crescimento e se recuperar da crise econômica", diz o economista da GO Associados, Luiz Fernando Castelli.
Segundo ele, o consumidor não precisa trocar com tanta frequência esses produtos e eles possuem um tíquete médio alto, o que também afeta diretamente nas vendas.
A opinião é compartilhada pelo presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Cláudio Felisoni. Para ele, esse setor acaba sendo mais afetado por questões macroeconômicas do que outros segmentos do varejo, e, por isso, deve demorar mais para apresentar uma retomada das vendas.
Para onde correr?
Ante esse cenário, as empresas do setor têm tomado algumas medidas para ultrapassar o período de crise. "O que elas têm feito é muito mais para o lado do custo da empresa. Elas têm reduzido custos para se adaptar a nova situação, fechando lojas com vendas baixas", diz o analista da Quantitas, Vinicius Piccinini. A Via Varejo, por exemplo, fechou 39 lojas de baixo desempenho em 2015.
Em nota ao DCI, a empresa afirmou que tem feito um forte trabalho de ajuste de processos e adequação da empresa ao atual cenário econômico. "Aceleramos nossas iniciativas de eficiência operacional, além de colocar em prática um plano de ajustes de estrutura, com otimização de processos e racionalização de despesas."
Também com o intuito de cortar custos, a Máquina de Vendas - dona das redes de lojas Ricardo Eletro, Insinuante, City Lar, Salfer e Eletro Shopping- anunciou a unificação de suas marcas sob a bandeira Ricardo Eletro. Com a unificação, a companhia deve gerar redução nos custos de marketing em torno de R$ 40 milhões. A integração de centros de distribuição e estruturas administrativas deve gerar uma economia de mais R$ 180 milhões.
Outra alternativa que as empresas do setor vêm adotando é a realização de negociações consignadas com a indústria, aponta o professor de pós-graduação do núcleo de varejo da ESPM, Roberto Nascimento. "Nesse tipo de negócio, o varejista só paga pela mercadoria que vender, o restante é devolvido para a indústria." Para ele, essa é uma maneira de as empresas não perderem com estoque.
Período de transição
"O varejo de bens duráveis vinha de anos de expansão, por isso, está passando agora por um momento de reformulação dos negócios", afirma o CEO da Eletrolar Show, maior feira de bens duráveis da América Latina, Carlos Clur. "No momento em que a economia está crescendo e as vendas estão altas todo mundo é gênio. Agora no momento de crise, quem vai se dar bem, quem vai sair fortalecido são as empresas que conseguirem se reinventar", avalia. A percepção das dificuldades sentidas pelo setor fez com que o executivo tenha uma perspectiva conservadora para 2016. No ano passado, a feira, que promove a negociação entre a indústria e o varejo, movimentou cerca de R$ 2 bilhões. Para este ano Clur prevê que o evento movimente metade desse valor.
Resultados das líderes
O resultado do 1º trimestre deste ano da Via Varejo, que engloba as varejistas Casas Bahia e Pontofrio, elucida as dificuldades enfrentadas pelo setor. A empresa, braço do Grupo Pão de Açúcar, apresentou queda de 12,7% na receita de janeiro a março, na comparação com o mesmo período de 2015. No conceito mesmas lojas - que analisa as unidades com mais de um ano de idade - a retração foi de 11,8%. "Apesar de o resultado demonstrar uma desaceleração [já que no quarto trimestre de 2015 o recuo foi de 15,2%] a queda ainda é preocupante", diz Piccinini, da Quantitas
Já a Máquina de Vendas, viu queda de dois dígitos no faturamento em 2015. A retração foi de cerca de 10% no ano passado, totalizando quase R$ 7 bilhões nos ganhos. A dívida do grupo, que era de R$ 2,4 bilhões ao fim de 2014, segue preocupante e é estimada em R$ 3 bilhões.
Veículo: Jornal DCI