A postura em relação à compra de alimentos para abastecer a despensa tem mudado. Mais conscientes em relação aos gastos, os consumidores têm apostado em pesquisa e planejamento antes de passar pelo caixa dos supermercados. A constatação é resultado de uma pesquisa recente apresentada pela Associação Paulista de Supermercados (Apas) e feita em parceria com as empresas Nielsen e Kantar Worldpanel. De acordo com o levantamento, a maior parte (75%) dos entrevistados sempre compra produtos em promoção. Porém, o resultado mostra que mesmo diante da crise os consumidores, no geral, não querem abrir mão de suas conquistas -- ou seja, de continuar adquirindo produtos específicos, principalmente na área de alimentação. A solução para os altos preços, segundo a pesquisa, está sendo adquirir marcas de preço mais acessível.
De acordo com o diretor da regional Sorocaba da Apas, Marcos Leandro Tozi, esse resultado é sentido no cotidiano dos donos de supermercados. "Os consumidores, principalmente da classe C, passaram a adquirir produtos de melhor qualidade e com a crise se viram com a necessidade de regredir novamente. Hoje estão deixando de consumir supérfluos." Na compra de Maria Antônia Cavalheiro, de 73 anos, este tipo de produto "não tem mais vez". "Hoje em dia, no supermercado, a gente pega somente o que está mais em conta e o que é suficiente. O que não é prioridade não dá para comprar mais", falou seu filho Celso José Cavalheiro, de 36 anos. Eles dizem que há alguns meses a rotina tem sido pesquisar preços e trocar marcas por versões mais baratas. "Já cheguei a ir, no mesmo dia, em dois mercados diferentes para pegar coisas em promoção", comentou Celso. A situação deste ano contrasta com a apontada na pesquisa em relação a 2015, que registrou uma diminuição das idas aos supermercados de 85, em 2014, para 81 no ano passado.
De acordo com o levantamento da Apas, nos dez primeiros dias do mês os supermercados têm concentrado o maior volume de vendas. Em 2013, 46% compravam na primeira semana do mês e, em 2015, este percentual subiu para 52%. Tozi explica que antigamente os empresários não registravam tanta diferença nesse volume de vendas, mas agora percebem esse impacto. Isso porque, como trabalham com mercadoria de primeira necessidade, os supermercados acabam sendo o tipo de comércio que sente por último os efeitos de uma crise. "Em algumas crises mais breves, não chegamos nem a sentir. Mas hoje a gente faz panfletos semanais com promoções e essa é realmente a estratégia para atrair consumidores e sobreviver."
Os sábados, de acordo com os estudos, concentram 64% da chamada compra de abastecimento, ou seja, aquelas que chegaram para substituir a antiga compra do mês. "Antes comprávamos tudo num lugar só e uma compra maior, que mandávamos até entregar. Eram dois ou três carrinhos cheios que viraram agora duas ou três sacolas a cada vinda ao supermercado", comentou Benedito Leovaldo de Souza, de 63 anos, ao lado da esposa Aracy Fátima Lopes, de 61 anos.
Moradores do Jardim Europa, eles dizem que estabelecer compras fracionadas foi necessário em razão da crise financeira e de essa forma dar mais possibilidade de aproveitar as promoções lançadas pelos estabelecimentos. "Sem contar que hoje a compra é menor e a gente vem a pé, fazemos uma caminhada", disse Benedito. Milton Cruz, de 58 anos, falou que costuma ir ao supermercado uma vez por semana e que com as compras de pouco em pouco consegue vantagens pagando com cartão de crédito. "Eu só pego as promoções." Com essa tendência, os mercados de bairro foram considerados, na pesquisa da Apas, como a extensão da dispensa do brasileiro. Esse segmento, aponta o estudo, cresceu 48% no ano passado e corresponde ao local procurado por 67% dos ouvidos para as compras de reposição.
Ainda que o consumidor esteja mais cauteloso na hora de comprar, a pesquisa da Apas aponta que o faturamento do setor supermercadista brasileiro subiu 7% em 2015 em relação ao ano anterior, chegando a R$ 315,7 bilhões. Para 2016, a perspectiva é que o desempenho já apareça impactado pelo cenário econômico atual e, por conta disso, o faturamento esperado fica na ordem de R$ 336 bilhões, com crescimento nominal de 6,5% no Brasil.
Veículo: Jornal Cruzeiro do Sul - Sorocaba/SP