Produtos tiveram alta superior a inflação este ano: 9,32% e 18,52%
“Os preços devem ficar firmes ao menos até julho e agosto. A partir de setembro, começa o período de chuvas, favorecendo os pastos e a produção de leite” Rafael Ribeiro de Lima Filho Consultor da Scot Consultoria
O feijão não é o único item do cardápio brasileiro com forte alta de preços em 2016: o tradicional café com leite também está mais caro. O preço do leite longa vida subiu 18,52% este ano, até junho, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial no país. Já o café teve alta de 9,32%. Quem gosta de adoçar com açúcar cristal, viu o preço saltar 16,29%. No mesmo período, o preço dos alimentos e bebidas avançou 7,30% e a inflação geral, 4,62%.
— O leite sobe porque nessa época chove pouco, e as pastagens ficam prejudicadas. O gado se alimenta mal e produz menos leite — explica Andre Braz, da Fundação Getulio Vargas.
REFLEXO NOS LATICÍNIOS
O início do período de entressafra é a principal razão do aumento do preço do leite, mas não a única, explica o consultor de mercado da Scot Consultoria Rafael Ribeiro de Lima Filho:
— Neste ano, houve um agravante. O milho e a soja, usados para completar a alimentação do rebanho quando piora a qualidade dos pastos, aumentaram de preço, e o custo do produtor subiu.
Levantamento da GfK — que monitora preços de 35 categorias de produtos em 320 supermercados do país — mostra que o preço médio do litro do leite longa vida subiu quase 30% desde o início do ano e está em R$ 3,33 em junho, considerando as duas primeiras semanas do mês. Em janeiro, era R$ 2,61. É o maior nível do preço nominal em cinco anos, desde 2011.
Pelo site PesquisaPraMim, que faz levantamentos diários de preço, o litro de leite variava entre R$ 3,80 e R$ 4,29 em supermercados da Barra da Tijuca e do Recreio na semana passada.
— O leite é o tipo de produto que as pessoas não têm muito como substituir ou reduzir o consumo. Com isso, acabam cortando outros itens para garantir sua compra — afirma o diretor de atendimento da GfK, Marco Aurélio Lima.
CAEM SAFRAS DE CAFÉ E AÇÚCAR
Mais do que apenas um produto, o salto no preço do leite afeta toda a cadeia de laticínios, que inclui itens como manteiga, queijo, iogurte e requeijão. O preço da manteiga disparou este ano, com alta de 41,89%. Já o iogurte subiu 7,33%, e o leite condensado, 12,87%.
E nas próximas semanas o preço vai continuar em alta, segundo Lima Filho:
— Os preços devem ficar firmes ao menos até julho e agosto. A partir de setembro, começa o período de chuvas, que favorece os pastos e a produção de leite.
No caso do café, a produção brasileira está em época de colheitas, mas os estoques mundiais do grão devem cair este ano, o que tem pressionado os preços. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostram que os estoques mundiais de café devem recuar 11% na safra 2016/17, para 31,5 milhões de sacas. Segundo o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, Renato Garcia Ribeiro, é o menor nível desde a safra 2012/2013.
O preço do açúcar cristal, por sua vez, tem sido afetado pelas chuvas, que prejudicam a moagem da cana-de-açúcar, também de acordo com análise do Cepea. O movimento é reforçado pela alta no mercado internacional, em função das expectativas de déficit global de açúcar. No mês de junho, o preço ao produtor já avançou 12,05%, segundo o Cepea, o que sugere efeitos mais à frente para o consumidor.
Veículo: Jornal O Globo