Levantamento do Ipea indica que uma desaceleração da cadeia contribuirá para o retorno do IPCA a níveis mais próximos do teto da meta, fixada em 6,5%; há 5 anos setor fica acima do IPCA
São Paulo - A previsão de um comportamento mais favorável nos preços do atacado, aliada à recuperação do real perante o dólar, deve fazer com que a inflação dos alimentos venha a arrefecer a partir de agosto.
Com isso, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) acredita que a cadeia alimentação, atual vilã do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve desacelerar e contribuir para que o índice cheio caminhe para níveis mais próximos do teto da meta, de 6,5%.
Uma análise do instituto divulgada na última semana indica que, em um horizonte de três meses, aproximadamente 37% da variação do IPCA será explicada pelos choques dos alimentos no atacado, enquanto o câmbio responde por 7,6%. Em períodos anteriores, a cadeia já foi responsável por 40% da variação do indicador.
"Não vamos chegar a uma deflação, não é uma queda de preços, mas vamos ver os alimentos crescendo a taxas menores do que vimos no início do ano", diz ao DCI a técnica de planejamento e pesquisa do Ipea, Maria Andreia Parente, na hipótese de manutenção de todos os fatores que influenciam na produção agrícola.
Responsável por onerar o custo dos insumos na lavoura, o câmbio já teve seus maiores impactos absorvidos pelo mercado. Lá fora, os fertilizantes, por exemplo, seguiram em trajetória de queda e a valorização do real colaborou para melhorar a relação de troca do agricultor no momento da aquisição dos produtos.
Segundo o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), desde janeiro de 2010, os preços dos defensivos agrícolas, rações e adubos apresentaram incrementos de 73%, 107% e 69%, respectivamente.
O dólar também tornou o mercado externo mais atrativo, para as carnes, por exemplo.
A quebra na safra de grãos, afetada pela estiagem e falta de chuvas, também, na avaliação da especialista, foi precificada. "Você já tem uma redução na cadeia de alimentos por esse lado", comenta. Neste quesito, as temperaturas do inverno são favoráveis para o pasto e cultivos como o hortifrúti, o que pode se refletir em melhoria no desempenho do leite para o consumidor final.
Vale destacar que o avanço nas colheitas da segunda e terceira safras de feijão, por exemplo, favorece a redução dos valores praticados no atacado. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os trabalhos nas lavouras feijoeiras seguem até meados de setembro.
Em junho, o Índice Ceagesp, balizador de preços de alimentos frescos no mercado, registrou queda de 2,87%, a terceira baixa consecutiva mesmo diante do excesso de chuvas e geadas nas regiões produtoras do Sul e Sudeste.
"A redução no consumo também afeta o setor de frutas nesta época do ano. Com boa qualidade e oferta preservada, os preços do setor caíram 7,51%", informou a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) em nota.
Em contrapartida, no semestre, o indicador acumula alta de 8,75%, em relação ao mesmo período de 2015, e, nos últimos 12 meses, a elevação de preços atingiu 23,13%.
Trajetória
Nos últimos cinco anos, à exceção do período compreendido entre o fim de 2011 e o início de 2012, a inflação dos alimentos tem sido sempre superior à do IPCA total.
"Antigamente, como você tinha outros fatores pressionando, ela [alimentação] assumia um papel coadjuvante. Agora, que o movimento econômico começou a cair, fomos olhar com calma para entender o que originava isso", lembra Maria Andreia.
Até 2010, a discussão se concentrava na inflação de demanda, com impacto nos serviços e bens de consumo duráveis beneficiados pela melhoria de renda e das condições de crédito da população.
Veículo: DCI