Juntos, itens respondem por um quinto do IPCA este ano. Tipo carioca já está 150% mais caro
“Este ano, problemas climáticos impactaram nas lavouras e no pasto que alimenta o gado de leite” Eulina Nunes dos Santos Coordenadora de Índices de Preços do IBGE
Pelo segundo mês consecutivo, o feijão e o leite puxaram para cima a inflação do país, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em julho, a taxa acelerou, passando dos 0,35% registrados em junho para 0,52%. Nos 12 meses encerrados em julho, a inflação ficou em 8,74%, um recuo frente aos 8,84% registrados até junho. No acumulado do ano, a alta foi de 4,96%, ultrapassando pela primeira vez em 2016 a meta da inflação estabelecida pelo Banco Central (BC), que é de 4,5% para 2016. Juntos, o feijão-carioca e o leite responderam por mais de um quinto dessa alta de 4,96% em 2016 e por 61% da taxa mensal.
De 1994 para cá, a gente conta dez sinais negativos em julho para alimentos, que tendem a empurrar para baixo a inflação geral do mês, já que é um mês em que, normalmente, os preços caem ou se estabilizam porque é um período de maior oferta devido ao fim da colheita e o escoamento das vendas. Este ano, problemas climáticos impactaram nas lavouras e no pasto que alimenta o gado de leite — destacou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.
As duas altas fizeram com que a inflação do grupo alimentos e bebidas fosse a 1,32% em julho, muito acima da média geral. Essa é a maior taxa para o grupo para o mês desde 2000, quando atingiu 1,78%. No ano, acumula alta de 8,79%.
O leite teve aumento de 17,58% em julho. No ano, já subiu 48,98%. O feijão-carioca, que é o mais consumido pelos brasileiros, por sua vez, teve alta de 32,42% no mês e de 150,61% em 2016. Se o ano acabasse em julho, essa seria a maior inflação para o produto em toda a série histórica, iniciada em 1995. Os outros tipos de feijão também tiveram forte alta este ano. O tipo preto passou a custar, em média, 41,59% a mais em julho, enquanto o mulatinho teve acréscimo de 18,89% no preço, e o fradinho, de 14,72%. Outro alimento básico do brasileiro, o arroz, também teve alta destacada pelo IBGE, de 4,68% no mês passado.
— As pessoas acabam buscando outros tipo de feijões, e esse aumento de procura acabou elevando seus preços também — explicou Eulina. NO ATACADO, PREÇOS JÁ CAEM Maria Andreia Parente Lameiras, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), lembra que também pesou sobre os preços a menor oferta. Segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área total de feijão plantada este ano, de 2,79 mil hectares, é 7,5% menor do que a da safra passada. A produção caiu ainda mais. Com 2,59 mil toneladas, 19,2% a menos do que na última temporada.
No caso do leite, explica Maria Andreia, pesaram, além da estiagem que prejudicou a pastagem, os custos de produção, devido ao aumento do preço de cereais usados na ração animal, que teve um primeiro semestre de inflação alta:
— Com menos pastagem disponível, os criadores a substituíram pela ração, que ficou mais cara. Isso tudo é repassado para o preço do leite.
O leite em pó também acumula alta de dois dígitos em 2016. Ficou 12,34% mais caro.
A taxa do mês de julho ficou acima da mediana das expectativas dos analistas consultados pela Bloomberg, que era de 0,45%, mas dentro do intervalo estimado, que ia de 0,32% e 0,60%. A boa notícia é que os economistas acreditam que os dois novos vilões da inflação terão um curto protagonismo. É que os preços no atacado e varejo já entraram em deflação no período recente, conforme indicam os Índices Gerais de Preço (IGPs) e coletas realizadas por pesquisadores.
Segundo as estimativas, a inflação de agosto deve ficar entre 0,27%, previsão da Consultoria Tendências, e 0,40%, projeção do Banco Fator. Menor do que a de julho, mas superior à de agosto do ano passado, quando os preços cresceram, em média, 0,22%.
Em relatórios após a divulgação dos números pelo IBGE, os bancos Fator e Bradesco disseram apostar numa trégua das altas do feijão e leite, pois, no atacado, já há queda de preços. O economista da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha e Márcio Milan, economista da Tendências, também preveem uma alta menor da inflação em agosto. Todos mantiveram as projeções para o IPCA fechado do ano, que ficam entre 6,9%, segundo o Bradesco, e 7,5%, pelas contas de Cunha.
— É como se a inflação para este ano estivesse contratada. A única surpresa pode vir de um choque no preço dos alimentos — avaliou Milan.
ENERGIA ELÉTRICA RECUA 3,04%
Entre os grupos que tiveram deflação, destaque para habitação, que, de acordo com a coordenadora do IBGE, impediu uma alta ainda maior da taxa de julho. O grupo saiu de um aumento de 0,63% em junho para uma queda de 0,29%, influenciada pelo recuo de 3,04% nos preços da energia elétrica devido a reduções tarifárias em Curitiba, São Paulo e Porto Alegre. Além disso, houve as alíquotas do PIS/Cofins caíram em dez das treze regiões pesquisadas.
Se analisados em dois grandes grupos, preços administrados e preços livres, o primeiro passou de avanço de 0,24% em junho para deflação de 0,1% em julho. Grande parte do movimento, explica o Banco Fator é justificado pelas quedas das tarifas de energia e combustíveis. Já a alta dos livres acelerou de 0,39% para 0,71%, com os alimentos sendo responsáveis pela maior parte da taxa.
Fonte: Jornal O Globo