Orgânicos da vez

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Depois de se consolidar no país e contar com a fidelidade de consumidores cada vez mais preocupados com o que põem à mesa, o mercado de produtos orgânicos pode ser a menina dos olhos neste período de crise econômica. Embora não esteja imune aos abalos da recessão, o segmento tem atraído cada vez mais produtores com interesse de se capacitar, enquanto aumenta o número de clientes conscientes e exigentes. Os que se aventuram no ramo sabem que não há espaço para amadorismo e que, para a oferta, é preciso, antes de tudo, disposição e ética. Quem segue a regra à risca comemora os números. Em 2015, o ramo movimentou R$ 2,5 bilhões e a expectativa é de que cresça este ano até 35%, conforme prevê o projeto Organics Brasil.
 
Foi em 2003 que a cultura e comercialização dos produtos orgânicos foram aprovadas no país em lei. “Primeiro, houve um boom desse mercado e hoje estamos diante de uma segunda onda do setor”, ressalta o veterinário especializado em produção orgânica Rafael Paiva Izidoro, que está há 26 anos na área. Segundo ele, nesses 13 anos, o mercado não mudou muito, tanto em Minas quanto no Brasil. “Esperava-se que ele virasse um filão, mas tornou-se um nicho. Há uma demanda crescente, enquanto a oferta não é tão grande. E, claro, isso faz com que o preço dos produtos seja maior e, neste momento da economia, os valores mais altos restringem o consumo”, pondera. De acordo com dados da Organics Brasil, entidade de fomento à exportação vinculada à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-brasil), o custo de um produto orgânico é, em média, até 40% mais caro que o de convencionais.
 
É nessa brecha, entre valores mais altos e pouca oferta, que novos produtores estão tentando ingressar. Tanto é que, por causa do alto interesse pelo ramo, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) começou este ano um curso-piloto de formação profissional na área de orgânicos, com aulas em Florestal, na Região Central. Dentro do Programa Formação por Competência, do Senar, o novo curso tem duração de até dois anos e tem como objetivo oferecer aos alunos desde as práticas mais básicas até a formação em gestor em orgânicos. “São muitas horas de treinamento, que passam por princípios de produção, certificação, normas, até o lado do empreendedorismo do estudante”, explica Rafael Izidoro, que é também um dos instrutores.
 
Ele diz que, com a consolidação do mercado de orgânicos no país, os consumidores reconhecem o produto não só pela qualidade, mas também valorizam o processo de produção. “Esse cliente é mais exigente, quer saber, por exemplo, sobre o manejo do solo, como os animais estão sendo tratados, as condições de trabalho e se aquele produtor atende às condições ambientais”, comenta Izidoro, dizendo que, por isso, é importante para quem ingressa no segmento ter ciência de todo o processo, desde a produção até a comercialização. “E, muitas vezes, esses profissionais não estão preparados para enfrentar o mercado por falta de conhecimento”, diz.
 
CONFIANÇA Quem quer pôr à mesa esse tipo de alimento deve, no entanto, realmente, conhecer a procedência do agricultor especializado na prática. Ultimamente, muitas são as denúncias de que determinado produtor não vende aquilo que propaga. Por isso, a coordenadora do curso e analista técnica da formação profissional rural do Senar, Marília Saraiva Pereira, afirma que a capacitação desse profissional é fundamental. “Construir o nome nesse meio pode ser difícil, mas desbancar alguém é muito mais fácil”, alerta. Ela diz que a ética é um dos assuntos abordados no curso.
 
Conforme a legislação brasileira, em vigor desde janeiro de 2011, o consumidor reconhece o produto orgânico por meio do selo brasileiro ou pela declaração de cadastro do produtor orgânico familiar. Todo produto orgânico vendido em lojas e mercados tem que apresentar o selo em seu rótulo. Já o agricultor familiar precisa vender seus produtos diretamente, para que o consumidor possa estabelecer uma relação de confiança com ele, ao comprar seus produtos na feira.
 
Marília destaca que a Dinamarca vem se preparando para que os produtos orgânicos sejam obrigatórios. Por lá, em 2015, o governo mostrou intenção de transformar a agricultura dinamarquesa em 100% orgânica e a primeira meta a ser alcançada, até 2020, é  duplicar a atual terra cultivada organicamente. Atualmente, a Dinamarca é o país com maior desenvolvimento e amplitude do comércio desse segmento. “Aqui em Minas, a procura pelo que é mais saudável tem aumentado e muitos produtores têm visto nesse nicho uma forma de ganhar dinheiro em tempos de crise”, comenta.
 
CERTIFICADO O Ministério da Agricultura tem, atualmente, oito certificadoras credenciadas: Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR), IBD Certificações, Ecocert Brasil Certificadora, Instituto Nacional de Tecnologia (INT), Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Insituto Chão Vivo de Avaliação da Conformidade, Agricontrol (OIA) e IMO Control do Brasil. A fiscalização das propriedades produtoras de orgânicos é feita por essas empresas, que assumem a responsabilidade pelo uso do selo brasileiro. Cabe ao ministério fiscalizar o trabalho dessas certificadoras.
 
A busca pelo certificado, de acordo com o produtor Modestino Miguel Pereira, tem como obstáculo a burocracia. Miguel, assim conhecido, é um dos alunos do curso de formação do Senar e conta que, como produtor de orgânicos, inclusive de frango com esse processo, o mercado é muito promissor. “É um setor em que o consumidor é diferenciado e onde a crise não afetou tanto, comparando com o produto convencional”, comenta, ressaltando que as aulas lhe trouxeram novos conceitos e aprendizagem. “Com elas, temos condições de nos certificar, o que é muito importante para quem está na área”, ressalta.
 
Feira fresca
 

No próximo sábado, das 9h às 15h, o The Plant promove, em Belo Horizonte, a quinta edição da Feira Fresca, com a oferta de alimentos orgânicos e artesanais produzidos na capital mineira e em municípios de seu entorno. São queijos, ovos, hortaliças, geleias, pastas, pães, pimentas, entre outros, cultivados ou fabricados com a aplicação de técnicas sustentáveis, sem uso de agrotóxicos ou adição de produtos químicos, como conservantes. Na edição, serão 24 expositores. A “Fresca” foi criada para estimular os negócios de pequenos empreendimentos da agricultura familiar e de artesãos independentes e para incentivar o consumo de produtos locais que, na feira, são vendidos diretamente pelos produtores. Ontem, foi encerrada na Serraria Souza Pinto a 10ª Feira de Agricultura Familiar de Minas Gerais, onde o público conferiu de perto a produção do campo.
 
Fonte: Jornal Estado de Minas


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