Brasília – Não há melhor aliado no combate à inflação dos alimentos do que a boa e velha pesquisa de preços. Comparar os custos de produtos em diferentes supermercados, ainda que de uma mesma rede, pode proporcionar economia anual de até R$ 2.471,56, no Rio de Janeiro, de acordo com um estudo feito pela Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor. Em Minas Gerais, o consumidor pode deixar de gastar até R$ 1.722; enquanto no Distrito Federal, a economia pode chegar a R$ 1.191. A pesquisa da Proteste engloba 23 cidades de 17 estados. Apesar de ser realizada todos os anos em abril e divulgada com defasagem, ela oferece um nível de detalhamento amplo.
O estudo mostra o preço de compra de duas cestas definidas de produtos, classificada de acordo com dois perfis de consumo distintos. A primeira, composta por 104 produtos com marcas líderes de venda e encontrados nas categorias mercearia, higiene e limpeza, perecíveis, hortifruti e variados. A segunda tem 90 produtos com as marcas mais baratas, sendo os mesmos da cesta 1, porém sem carne, frutas, verduras e legumes. Pelo conjunto de 90 produtos sem marca definida nem perecíveis, os mineiros desembolsam, em média, R$ 332,09. Em Brasília, esse valor é de R$ 381,96, e no Maranhão, chega a R$ 392,88. A economia anual é conquistada com a opção pela cesta mais barata. Em Minas, a cesta mais cara, com 104 itens, custa R$ 475,60.
Uma das conclusões é que, apesar de geralmente mais baratos, os produtos sem marca aumentaram mais do que os chamados premium em 2016. A situação ocorreu em nove de 14 estados – três deles entraram na pesquisa e não têm base comparativa. “Ficou mais difícil encontrar as barganhas, mesmo entre os produtos mais baratos", afirma Natália Dias, analista da Proteste e coordenadora do estudo Guia de Preços de Supermercados.
Para driblar os altos preços, Natália recomenda que os consumidores pesquisem não apenas em comércios próximos de onde moram, mas também em regiões vizinhas. “O ideal é sempre comparar. Seja em um supermercado próximo ao ambiente de trabalho ou da casa de um amigo ou familiar. Uma vez identificados aqueles com os preços mais baratos, é preciso verificar se mesmo o deslocamento vai render alguma economia”, destaca. As diferenças de preços são grandes. Em Brasília, a Proteste observou uma diferença de 128% no preço do pacote de um quilo de feijão-carioca; e de 102%, no quilo de sal grosso para churrasco.
O servidor público Michel Cardoso, de 38 anos, vai no mínimo três vezes por semana a supermercados e faz o possível para comparar os preços em atacadistas. Ele considera vantagem a compra em maior quantidade por um preço mais baixo. “É uma oportunidade que tenho de economizar. Como os gastos com compras estão elevados, qualquer contenção é uma ajuda e tanto”, diz. Ele calcula que, em relação ao mesmo período do ano passado, as despesas com supermercado subiram cerca de 20%.
Segundo o economista Heron do Carmo, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, outro motivo para a diferença de preços de uma loja para outra é a escassez de produtos por causa da queda de produção, como o feijão e o leite. A própria inflação explica a amplitude de preço. Por exemplo: determinado produto custa R$ 1 no bairro A e R$ 2 no bairro B. Após um reajuste de 10%, o produto do bairro A custará R$ 1,10 e o do bairro B, R$ 2,20. Logo, a diferença entre os dois passou de R$ 1 para R$ 1,10.
A opção por não estocar e realizar compras semanais é a recomendada pela planejadora financeira Myrian Lund, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV). Mas só isso não adianta. Para ela, é importante definir sempre o valor disposto a gastar, porque mesmo as ofertas podem ser prejudiciais ao controle do orçamento sem um planejamento adequado. “Se o consumidor não define as prioridades e o quanto quer desembolsar, as promoções acabam se tornando uma armadilha, levando as pessoas a gastarem mais”, avalia.
Fonte: Jornal Estado de Minas