Concorrendo com feijão e milho, produção mineira deve recuar até 35% neste ano
A estiagem severa registrada em Minas Gerais, ao longo de abril, aliada à concorrência com o milho e o feijão, interferiram na produção de trigo no Estado, que deve recuar entre 30% e 35% em relação ao ano passado. Com a demanda aquecida, menor oferta e o País ser dependente das importações do cereal, os preços pagos pelo trigo ficaram em patamares rentáveis e cobriram parte dos prejuízos provocados pela seca. Para o próximo ano, a tendência é de ampliação do plantio.
Minas Gerais é o terceiro maior produtor de trigo do País, atrás somente do Paraná - que produz 3,3 milhões de toneladas - e Rio Grande do Sul, com produção de 2,1 milhões de toneladas de trigo. Os principais municípios produtores do Estado estão no Alto Paranaíba (Ibiá, Perdizes e Santa Juliana), na região Central (Madre de Deus) e no Sul de Minas (Três Corações). A produção mineira responde por apenas 3% do volume colhido no Brasil.
De acordo com o vice-presidente da Associação dos Triticultores do Estado de Minas Gerais (Atriemg), Eduardo Elias Abrahin, o plantio da cultura foi muito prejudicado pela falta de chuvas. Quem plantou o cereal em abril também registrou prejuízos devido às altas temperaturas. As chuvas na região só foram registradas a partir de maio.
“A produção de trigo em Minas Gerais vinha apresentando crescimento, mas pela escassez de chuvas ficou menor em 2016. Tanto as áreas irrigadas como as de sequeiro sofreram com a falta de água. Muitos produtores que tinham sementes e pretendiam investir na cultura suspenderam os planos em função da escassez hídrica”.
Outro fator apontado para a safra menor foi a concorrência com outros produtos, como o milho e o feijão, que em meados de abril apresentaram valores recordes e atraíram os produtores que antes investiam no trigo.
“Muitos produtores que possuem pivôs decidiram investir no milho e no feijão pela maior retorno financeiro proporcionado por estes produtos, que estavam com a oferta pequena e a demanda grande, o que manteria os preços mais valorizados que os do trigo”.
A colheita da safra mineira de trigo já está praticamente concluída. A estimativa da Atriemg é que a produção varie entre 180 mil e 200 mil toneladas, o que significa uma retração entre 30% e 35% em relação ao volume registrado no ano anterior.
Segundo os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), houve uma redução na área plantada da ordem de 8,8%, caindo dos 82,2 mil hectares alcançados na safra passada para 75 mil hectares na atual safra.
O clima seco e as altas temperaturas fizeram com que a produtividade recuasse em torno de 10% em relação à safra passada, sendo estimada em 2,7 toneladas por hectare na safra 2016.
Com um consumo interno estimado para 2016 em 10 milhões de toneladas de trigo e produzindo apenas 6 milhões de toneladas por safra, sendo 2 milhões de toneladas destinadas à alimentação animal, o Brasil se mantém dependente das importações, principalmente da Argentina e dos Estados Unidos.
Valorização - Pelo fato de a safra mineira chegar ao mercado na entressafra e antes do início da colheita no Sul do País, que responde por mais de 70% da oferta do cereal, os preços praticados são mais altos.
Segundo Abrahin, pela menor oferta e demanda elevada, a comercialização da safra mineira foi rápida e os produtores receberam, em média, R$ 850 pela tonelada do trigo.
“Os preços ficaram em níveis rentáveis e suficientes para minimizar os prejuízos provocados pela estiagem. A maioria dos produtores conseguiu negociar toda a safra. Somente os que estavam esperando novas valorizações dos preços ainda têm trigo disponível. Porém, com o início da colheita no Sul do País, os preços já recuaram e estão em torno de R$ 750 por tonelada”, explicou Abrahin.
Para a próxima safra, que será semeada em abril de 2017, a expectativa é de retomada do crescimento, tanto em produção como em área.
“Se o regime de chuvas for melhor, a tendência é de uma maior produção de milho e feijão na primeira safra e de recuou nos preços destes produtos. Com isso, os investimentos no trigo devem ser retomados e a produção ficará maior”.
Fonte: Jornal Diário do Comércio de Minas