Cientistas temem que área tradicional para cultivo do grão seja reduzida pela metade em 3 décadas
As mudanças climáticas têm recebido atenção especial dos segmentos envolvidos com a agricultura no planeta, de um modo geral, dado seu potencial de provocar perdas e/ou promover o deslocamento das áreas de cultivo. Especificamente com relação à cafeicultura, nas últimas décadas, as atenções dos cientistas e cafeicultores também têm se voltado para o aquecimento global, cujos efeitos podem reduzir ou mesmo afetar substancialmente áreas consideradas tradicionalmente aptas para o cultivo do café em várias partes do mundo.
No contexto das mudanças climáticas, o Relatório Internacional de Tendências do Café, referente ao mês de outubro de 2016, do Bureau de Inteligência Competitiva do Café, da Universidade Federal de Lavras (Ufla), traz como um dos seus destaques - que recentemente ganhou ampla repercussão na mídia internacional - um novo relatório sobre o impacto das mudanças climáticas na cafeicultura. Tal estudo, intitulado A Brewing Storm: The climate change risks to coffee (Preparando a tempestade: os riscos das mudanças climáticas para a cafeicultura) foi produzido pelo The Climate Institute, da Austrália. O relatório do Bureau está disponível na íntegra no Observatório do Café do Consórcio Pesquisa Café.
Segundo esse estudo elaborado pelo The Climate Institute, mantidas as condições atuais, a elevação da temperatura poderá reduzir pela metade a área tradicional apta ao cultivo do café nas próximas três décadas. Além disso, o café selvagem, ainda presente de forma nativa em florestas africanas, estaria correndo risco de extinção nos próximos 70 anos. O relatório salienta que esse risco preocupa cientistas, haja vista que as plantas nativas de café podem conter informações genéticas valiosas que permitiriam, por exemplo, o desenvolvimento de novas cultivares mais resistentes ao aquecimento.
Em complemento a essa análise do Bureau, vale esclarecer que o cafeeiro é uma planta da família Rubiácea que tem seu centro de origem nas regiões montanhosas da antiga Abissínia, que hoje compreende a região Sudoeste da Etiópia, Sudeste do Sudão e Norte do Quênia. Além disso, o Bureau aponta que o aquecimento global já estaria também aumentando a área de infestação de pragas e doenças, como é o caso do surto de ferrugem na América Central e a coffee berry borer (conhecida no Brasil como broca-do-café) que, na África, passou a afetar cafezais em altitudes consideradas livres da praga.
Diante dessas incertezas climáticas, o relatório aponta como uma das possibilidades para os cafeicultores mitigarem esses problemas seria deslocar o cultivo do café para áreas mais elevadas, mas, em contraponto, salienta que muitos produtores não possuem os recursos necessários para esse intento. Outro entrave relevante apontado nesse caso seria a necessidade de os cafeicultores promoverem desmatamento nas novas áreas de maior altitude. Por fim, uma solução geral apontada para amenizar os efeitos das mudanças climáticas seria reduzir as emissões de gás carbônico, conclui o estudo citado no Relatório do Bureau. Com informações da Embrapa Café
Fonte: Diário do Comércio de Minas