São Paulo - Diante da lenta recuperação da economia doméstica, um movimento de fusões e aquisições pode agitar o mercado lácteos. Grupos estrangeiros estão de olho em fatias de empresas brasileiras, que neste ano ainda vão sofrer os efeitos da crise, dizem executivos.
"As grandes multinacionais enxergam no Brasil um mercado pujante, com quase 200 milhões de consumidores. Apesar do momento econômico ruim, as expectativas para o futuro são positivas", diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq), Fabio Scarcelli. Segundo ele, porém, algumas particularidades são seguidas no mercado brasileiro, diferente do que ocorre no mundo. "As empresas preferem comprar fatias, até minoritárias das empresas, para manter os antigos controladores. Assim podem aprender a trabalhar no mercado local", acrescentou.
Envolta nos problemas da controladora - a holding de investimentos J&F, de propriedade dos irmãos Batista - a bola da vez é a Vigor. Entre os principais interessados está a mexicana Lala, que há anos tenta ingressar no mercado brasileiro, numa operação que poderá movimentar até R$ 6 bilhões. Dentro do negócio, estará inclusa uma participação de 50% da Itambé. A outra metade permanecerá com os antigos donos, a Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR). Outro caso de empresa que recebeu aporte estrangeiro, mas seguiu nas mãos de brasileiros foi a CBL Alimentos, de Fortaleza (MG), controladora da marca Betânia, que vendeu 20% de seu capital para o fundo de private equity Arlon, que planeja investir R$ 100 milhões nos próximos anos. Outros negócios envolvendo estrangeiros foram a alienação de 49% da PICNIC Queijos e Produtos Lácteos, de Tapejara (PR), para a Leprino Foods (EUA); e a compra pela italiana Granarolo da Yema.
"Ao invés de se alavancar, as empresas estão se associando para poder crescer", ressalta Scarcelli, acrescentando que as empresas estão descapitalizadas como consequência da retração do consumo interno.
Apenas no segmento de queijos e seus derivados, a projeção da Abiq é de que, em termos de volume, ocorra um crescimento de apenas 1% este ano sobre 2016 - revertendo, porém, uma queda de 3% observada um ano antes. Como comparação, entre os anos de 2010 e 2014, o volume comercializado teve avanço, médio, acima dos 10%.
Projeções
De forma consolidada, o mercado de lácteos vai crescer em faturamento, mas num ritmo lento. Segundo dados da Eurominitor, o setor deverá movimentar R$ 85,642 bilhões este ano, representando uma expansão nominal de 2,6%. Por categorias, as vendas da indústria ao varejo de leites podem atingir este ano R$ 33,412 bilhões (alta de 2,5% sobre 2016); de queijos, R$ 22,252 bilhões (+3,9%); de iogurtes, R$ 16,195 bilhões (+1,6%); de outros derivados, principalmente leite condensado e creme de leite, R$ 7,382 bilhões (+2,6%); e de R$ 6,400 bilhões de margarina e manteiga (+1,4%).
Para a Nielsen, que considera o volume vendido pela indústria ao varejo, o quadro é mais preocupante. No ano passado, itens de mais peso no faturamento do setor registraram queda, puxados por leite asséptico (-0,5%) e iogurte (-6,8%). "As campanhas promocionais desempenham um papel importante na manutenção das vendas", comenta, em nota, o gerente de pesquisa da Euromonitor, Alexis Frick.
Segundo ele, muitas categorias de produtos, como iogurte, foram as que mais cresceram nos tempos prósperos econômicos, mas acabaram sendo os primeiros a ser substituídos por lácteos mais baratos.
De acordo com o diretor de novos negócios e relações institucionais da Itambé, Ricardo Cotta, a previsão de queda da demanda do mercado lácteo é de algo como 9% a 10% este ano. Apenas no segmento de iogurtes a retração acumulada até meados de 2017 é de 15%, com destaque para retração de 23% do grego, enquanto os produtos de bandeja, mais populares, a queda chega a 10%.
"Sabendo desse cenário de retração, apostamos em linhas sem lactose e na reestruturação dos nossos canais de venda, com uma área própria", diz. Sobre o processo de venda da Itambé, Cotta evitou falar.
Fonte: DCI São Paulo