Os produtores de trigo devem estar atentos à época ideal de semeadura para minimizar os riscos de perda de produtividade. O alerta é do pesquisador Sergio Ricardo Silva, da Embrapa Trigo. Segundo ele, para reduzir os riscos de geada no florescimento, evitar períodos de seca após a semeadura e durante os estádios iniciais de enchimento de grãos e para fugir das prejudiciais chuvas durante a colheita, os produtores contam com a recomendação de época de semeadura definida pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), disponibilizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
No entanto, de acordo com Silva, o ZARC não considera a probabilidade de ocorrência de doenças de espiga do trigo (giberela e brusone). Para a safra de 2017, por exemplo, o ZARC indicou para Londrina o período de semeadura do trigo de 21 de março até 10 de maio. “Porém, agricultores e pesquisadores têm verificado em safras recentes (2009, 2011, 2015 e 2017) que a semeadura do trigo realizada antes de 20 de abril intensifica a ocorrência de brusone no norte do Paraná”, destaca. “Assim, o período adequado de semeadura deve ser escolhido considerando também a probabilidade de ocorrência da doença, especialmente no Mato Grosso do Sul, norte do Paraná e Cerrado brasileiro”, explica Silva.
Segundo o pesquisador, a ocorrência simultânea de duas condições ambientais favorece a infecção dos fungos nas espigas: altas temperaturas (20 a 25 ºC para giberela e 24 a 28 ºC para brusone) e longo período de chuvas consecutivas (48 a 72 horas para giberela e 15 a 40 horas para brusone). “Portanto, a planta deve escapar de um dos dois fatores de risco, principalmente nas três semanas a partir do início do espigamento. É neste período que a infecção do fungo nas espigas resulta em maiores perdas de produtividade”, destaca.
Conhecendo o histórico climático que define a época do ano com temperatura média abaixo de 15 ºC, o produtor consegue planejar o momento ideal da semeadura, para que o espigamento da cultivar de trigo ocorra nesta época. “Se a temperatura estiver abaixo de 15 °C após o espigamento, a doença não se instala na planta, pois os esporos do fungo não conseguem germinar e infectar o tecido vegetal”, orienta. “Outro cuidado está relacionado à escolha de cultivares com diferentes ciclos, isto é, número de dias entre a germinação e o espigamento. Neste caso, a época da semeadura precisa ser ajustada individualmente para cada cultivar”, diz. Longo período de chuvas consecutivas após o espigamento também favorece as doenças de espiga do trigo. “Por isso, o produtor deve privilegiar períodos de semeadura que possibilitarão a ocorrência do espigamento em época com chuvas mais espaçadas”, alerta.
Para aqueles agricultores que não dispõem de histórico climático em suas propriedades, Silva sugere medidas práticas de manejo da época de semeadura para aumentar a probabilidade de escape das doenças de espiga. A orientação é semear uma cultivar de trigo em diferentes épocas (espaçadas aproximadamente de 14-21 dias entre si) e/ou semear várias cultivares com ciclos diferentes na mesma época. “Deste modo, uma proporção significativa da área plantada escapará das doenças”, explica.
Sobre o trigo – Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra de 2017 o Brasil produziu aproximadamente 4,3 milhões de toneladas de trigo em 1,9 milhões de hectares, sendo que 2,2 milhões de toneladas foram produzidas em 961 mil hectares no Paraná. “Desde 2014 a produção de trigo no Brasil tem reduzido gradativamente, devido a questões de mercado, à baixa rentabilidade da cultura e à ocorrência de brusone e giberela em regiões endêmicas destas doenças”, diz.
Sobre a brusone - Uma das principais doenças do trigo é a brusone, causada pelo fungo Pyricularia oryzae patótipo Triticum. Esta doença afeta as espigas de trigo em regiões de clima mais quente e chuvoso. “A brusone é uma doença que não apresenta controle químico eficiente com uso de fungicidas na maioria das situações. Por isso, as infecções precoces, logo após o estádio de espigamento, podem impedir totalmente o desenvolvimento dos grãos. Além disso, não existe no Brasil cultivares de trigo com suficiente resistência genética para reduzir os danos econômicos. Deste modo, a medida mais eficiente é ajustar a época de semeadura para que a cultivar de trigo escape das condições climáticas favoráveis à infecção do fungo nas espigas”, explica Silva.
Fonte: Embrapa Soja