A produção de queijos voltou a crescer depois do recuo causado pela crise. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Queijos (Abiq), o aumento previsto para este ano deve ser de 2,5%. A oferta de leite, contudo, pode ser um desafio para os fabricantes.
“Não vamos ter um avanço vigoroso como vinha acontecendo antes da crise, quando o setor crescia na casa dos 10% ao ano, mas a produção deve crescer”, afirma a assessora de marketing da Abiq, Silmara Figueiredo.
No ano passado, a produção de queijos superou um milhão de toneladas, alta de 2% sobre 2016. Segundo a dirigente, tanto a leve retomada que se viu em 2017 quanto a perspectiva de crescimento para 2018 estão amparadas no aumento do poder de compra do consumidor.
Silmara acrescenta ainda que isso também faz com que o brasileiro volte a se alimentar fora de casa, o que amplia a demanda pelo produto por parte de restaurantes, por exemplo.
O gerente de marketing e vendas da Scala Laticínios, Marco Antônio Barbosa, espera um crescimento superior ao do mercado para a empresa neste ano, de cerca de 9% nos volumes de produção. “Tivemos uma boa arrancada no primeiro trimestre”, conta.
Além da perspectiva de aquecimento da economia, ainda que com menos vigor que o esperado no começo do ano, Barbosa projeta que as vendas em atacarejos podem ter papel significativo nos negócios. “Acredito que essa opção se consolida e vai ter um peso relevante no aumento das vendas de queijo e de lácteos em geral”, avalia.
Localizado em Sacramento (MG), o laticínio tem três unidades fabris e capacidade para processar mais de 600 mil litros de leite por dia. Em 2017, foram processados aproximadamente 180 milhões de litros de leite e comercializadas 25 mil toneladas de produtos.
O consumo de queijos no Brasil é de 5,5 quilos por habitante ao ano, ainda pouco se comparado com a Argentina, onde a média é de 11,5 quilos por habitante ao ano. Segundo a Abiq, em torno de dois mil laticínios se dedicam à produção de queijo no País, sendo que em torno de 150 empresas representam entre 70% e 80% das vendas.
A perspectiva positiva da indústria também está relacionada à oferta de leite. Na avaliação da Abiq, a captação deve crescer nos mesmos patamares do ano passado, quando o incremento alcançou 4%, para 35 milhões de litros, segundo estimativa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Margens
Ao longo da crise, as empresas tiveram um declínio da rentabilidade. Em 2016, quando a produção de queijos recuou 3%, o preço do leite aumentou devido à estiagem, o que reduziu a captação.
À época, para evitar uma queda das vendas, muitas empresas não repassaram o aumento de custos de forma integral. “Neste ano, se houver uma reacomodação dos preços, deve ser pequena, uma vez que grande parte do custo de produção é a aquisição do leite e a oferta deve ser equilibrada com a demanda.”
Na avaliação de Barbosa, se não houver uma disparada dos preços do leite, as indústrias devem ter um segundo semestre positivo em 2018. No entanto, ele reconhece que a bacia da região em que a Scala atua é bastante disputada e os preços do leite são elevados. O executivo informa que a empresa já passou por dois reajustes neste ano.
Na avaliação da pesquisadora do Cepea, Natália Grigol, poderá ser um desafio para as indústrias equacionar o consumo mais fortalecido com uma matéria-prima mais cara. Embora espere um crescimento na captação entre 2,5% e 3% neste ano, ela alerta para o cenário atípico, com índice de produção de leite do Cepea acumulando queda de 3,1% desde dezembro. “Isso é resultado do desestímulo dos pecuaristas, que em 2017 produziram em excesso e viram os preços caírem abaixo de R$ 1 o litro”, explica Natália.
O aumento dos preços do milho também preocupa, pois amplia o custo de produção e pode reduzir as margens. O preço do leite chegou a R$ 1,07 o litro na média do País em março, com alta de 5,3% em relação a fevereiro.
Fonte: DCI