A greve dos caminhoneiros autônomos, que entrou nesta quarta-feira no terceiro dia, começa a afetar a atividade produtiva de diversos setores. Empresas de transporte de passageiros de São Paulo e Rio dizem que podem ficar sem combustível para trabalhar. A administradora do aeroporto de Brasília afirma que possui queronese de aviação apenas para hoje.
Os caminhoneiros protestam contra o aumento de preço do diesel, reflexo da nova política de reajuste de combustíveis da Petrobras, que acumula alta de 56,5% na refinaria desde 3 de julho do ano passado.
As indústrias de alimentos, como carnes e laticínios, são as mais afetadas. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) diz que fornecedores da indústria de laticínios estão descartando a produção de leite devido aos bloqueios nos transportes de carga. “No centro-sul [do Estado], frigoríficos de aves também não estão conseguindo escoar a produção”, diz a entidade.
O setor de bebidas também está seriamente afetado, com algumas empresas tendo de paralisar a maior parte de suas operações. “Outra situação preocupante diz respeito à indústria de vidro. A produção deste setor é realizada de forma ininterrupta e, sem receber os insumos, há risco para os equipamentos”, diz a Fierj.
De acordo com a Associação Paulista de Supermercados (Apas), as paralisações dos caminhoneiros autônomos já causam desabastecimento nos supermercados, especialmente de frutas, legumes e verduras, que são perecíveis, além do abastecimento diário. “Carnes e produtos industrializados que levam proteínas no processo de fabricação já estão com as entregas comprometidas pelos atrasos no reabastecimento”, diz a Apas.
A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) diz que alguns produtos, como manga, mamão, melão, melancia e batata, chegaram em menor quantidade no entreposto paulista nesta quarta-feira.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informa que a greve suspendeu as atividades de 91 mil trabalhadores de plantas industriais da suinocultura e avicultura nesta quarta-feira e que 78 unidades estão paradas.
“Todo o nosso setor de matérias primas vivas (boi, suíno, aves), e leite e o abastecimento em geral está sendo muito afetado”, informou o presidente executivo da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) e do Sindicarne-PR, Péricles Salazar. “Estamos recebendo inúmeras queixas de caminhões transportando nossos produtos que são perecíveis e estão parados em várias regiões do país”, disse.
“No setor da pecuária de leite é gravíssimo, sobretudo no transporte de laticínios. Na pecuária de corte é também muito crítico em relação aos animais que vão para o abate. O problema se agravará se houver demora para uma solução, gerando desabastecimento e também o aumento nos preços”, alerta o presidente da Associação Brasileira de Criadores (ABC), Luiz Alberto Moreira Ferreira.
Já a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) disse que os portos têm entre três e cinco dias de estoques de grão e farelo de soja para a exportação. “Se passar desse tempo, pode comprometer as vendas ao exterior”, diz presidente executivo da entidade, André Nassar. Além disso, ele conta que a estrutura para armazenagem de farelo e óleo de soja é menor do que para o grão, o que está levando muitas fábricas a reduzirem ou até mesmo pararem a produção. Considerando o que foi exportado até o dia 18 de maio, a entidade calcula que cerca de 320.000 toneladas entre grãos e farelos deixarão de ser exportadas diariamente.
Montadoras
O presidente da Anfavea, associação das montadoras de veículos, Antonio Megale, afirma que a situação é preocupante. “Muitas fábricas já pararam suas linhas de montagem e, se a greve dos caminhoneiros continuar até o fim de semana, é certo que todas as montadoras pararão. Com isso, teremos uma queda na produção, nas vendas e nas exportações de veículos, tendo como consequência impacto direto na balança comercial brasileira e na arrecadação de tributos.”
O grupo PSA, que produz veículos da marca Peugeot e Citroën em Porto Real (RJ), é uma das empresas afetadas. “Estamos já vendo planejamento de remanejamentos de produção e compensação futura”, diz a montadora.
A Ford também confirma que a produção das fábricas de Camaçari (BA) e as de São Bernardo do Campo e Taubaté (SP) foi impactada devido à paralisação nacional dos caminhoneiros assim como o Grupo FCA, que produz entre outros carros da marca Fiat.
“A continuidade da paralisação dos caminhoneiros e o bloqueio parcial da BR 381 acentuaram os problemas de fluxo logístico que a FCA começou a sentir ontem (terça-feira). Devido ao atraso na entrega de peças, já há reflexos na produção. Ainda não temos quantificado este impacto.”
A Bosch informou que a greve dos caminhoneiros também tem afetado o fluxo logístico em suas fábricas. “A empresa está com dificuldades tanto no recebimento de mercadorias via o porto de Santos, assim como em rotas de transportes interestaduais para abastecimento de suas unidades fabris e entrega aos clientes.”
Transporte público
A paralisação também começa a ter ainda reflexo no transporte público. Empresas de transporte de ônibus de São Paulo e Rio de Janeiro dizem que podem parar as atividades por falta de combustível.
No Rio, a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) diz que o desabastecimento atingiu “um ponto extremamente crítico para a operação das empresas de transporte público, provocando impactos diretos na circulação dos ônibus em todo o Estado”. De acordo com levantamento da entidade, até 40% do porcentual da frota que não foi para as ruas nesta quarta-feira por indisponibilidade de combustível.
Em São Paulo, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss), afirma que oito das 14 associadas possuem diesel apenas até esta quinta-feira. Outras seis possuem estoque suficiente para operar até sexta-feira.
Fonte: VEJA.com