O número de brasileiros que empreenderam para driblar a dificuldade de colocação no mercado de trabalho disparou na crise. Em 2017, 43% das empresas com menos de três anos foram abertas por necessidade – em 2014, o percentual era 29%. Nesse cenário, varejistas devem pensar em boas práticas de gestão para garantir que o sonho e ser o próprio chefe não vire pesadelo.
“Quando não há espaço para absorção no mercado e trabalho, abrir o próprio negócio parece a melhor saída, e atuar no varejo é muito comum”, afirma o professor de empreendedorismo e especializado em negócios de necessidade pela Universidade São Paulo (USP), César Pinto. Segundo uma pesquisa do Sebrae, ao início de 2017, 11 milhões de empreendedores há menos de três anos disseram ter empreendido por falta de opção.
“Os negócio por necessidade envolvem o menor custo possível e retorno mais rápido, e isso pode ser um tiro no pé”, diz o professor, ressaltando que, além de problemas contábeis, muitas não sabem prever demanda, precificar e formar estoque.
“Não adianta ir até o Brás [Bairro de São Paulo] para comprar roupas e tentar revender na marra. Muitas vezes a falta e profissionalização joga o empreendedor em uma situação financeira pior do que ele tinha antes de resolver abrir o próprio negócio”, alerta o acadêmico.
Um exemplo de empreendedor por necessidade é Renata Brasil. Formada em administração, Renata perdeu o emprego em 2013, e depois de procurar recolocação por mais de um ano, resolveu abrir um negócio próprio.
“Decidi trabalhar com a venda de roupa e acessórios porque era o mais viável. Tirando as noções de administração de empresa, não sabia nada sobre varejo. E meus dois primeiros anos foram muito difíceis”, relembra.
O ponto de inflexão da empreendedora foi, justamente, a capacitação específica para varejo. Em 2015 Renata fez uma série de cursos que iam desde gestão de estoque até controle de folha de pagamento. “Hoje a margem das minhas vendas é o dobro do que era em 2013. Esse tipo de coisa não se aprende sozinho.”
Melhores práticas
Foi justamente a busca por melhores práticas que puxou a demanda por cursos na Escola Sorvete. Com um projeto que abarca desde a produção do produto até a gestão de uma loja, a escola registrou incremento de 50% na demanda nos últimos anos.
Segundo o chef sorveteiro Francisco Sant’Ana, que administra os cursos, o público da escola é variado, mas a busca é similar: alternativas de renda. Para atender essa alta demanda, a empresa aderiu ao Ensino a Distância (EaD) e já prepara grades alternativas para atender todo mundo.
“Com a economia em recuperação, e as pessoas mais esperançosas, buscando dar uma guinada na vida profissional autônoma, aumenta a busca por investir em um próprio negócio”, explica ele.
Com a ajuda da Escola Sorvete, Sant’Ana conta que empresas como a Sorveteria Wallnuts, Dona Nuvem, Santin Lovely Ice Cream avançaram. “Um dos alunos resolveu criar a própria fábrica distribuindo para bares, restaurantes e eventos sociais”, comemora.
Outra iniciativa que promete ajudar a profissionalizar o setor é o recém lançado “ProVa – Laboratório de Inovação do Varejo”, que integra processos no varejo e na indústria de modo mais eficiente. “O nosso objetivo é incentivar o aumento da competitividade do varejo brasileiro, além da criação de novos modelos de negócio, o desenvolvimento de produtos e serviços, a melhoria do atendimento e a interação com outros segmentos”, disse o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge de Lima, na inauguração do espaço, que fica no Shopping Frei Caneca, em São Paulo.
Focado em empresas de médio porte, ao longo de 24 meses, serão desenvolvidas ações para lojistas de todas as regiões brasileiras. “Serão feitos meetups, ciclos de design thinking, feiras e workshops. A expectativa é receber, durante o período, 10 mil tomadores de decisão do varejo”, disse o coordenador do projeto pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Eduardo Tosta.
Fonte: DCI