Embrapa cria novo tipo de tomate com mais licopeno e resistência a pragas

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Pesquisadores brasileiros usaram técnicas de melhoramento genético para desenvolver uma nova variedade de tomate que contém até três mais vezes licopeno do que a quantidade considerada normal. O tomate já tem uma concentração naturalmente elevada do licopeno, que lhe dá a cor vermelha como sua principal característica e a proteção contra raios solares.

 

Ao ser ingerido pelo ser humano, o nutriente funciona como antioxidante e, segundo vários estudos, está associado à prevenção do câncer, principalmente o da próstata. O novo tomate do tipo cereja ou grape (alusão à uva, em inglês, devido ao tamanho diminuto), promete fazer ainda mais bem à saúde não só pela maior concentração de licopeno, mas também por demandar bem menos agrotóxicos na produção porque é mais resistente a pragas comuns. O tomate é atualmente uma das lavouras que mais demandam pesticidas.

 

 

O novo tomate foi desenvolvido pela Embrapa Hortaliças, um dos braços de pesquisa da estatal ligada ao Ministério da Agricultura. O trabalho, inteiramente nacional, promete reduzir o custo do cultivo do tomate cereja, hoje baseado em sementes importadas. Com o desenvolvimento da estatal, os produtores brasileiros não precisarão pagar royalties, o que promete fazer o custo de produção ser até 30% mais barato.

 

Variedade é batizada de Zamir

 

 A pesquisa é resultado de anos de estudo de características genéticas naturais dos tomateiros por parte de uma equipe da Embrapa Hortaliças, em Brasília. Os cientistas da estatal de pesquisa e desenvolvimento para o campo, em parceria com a empresa Agrocinco, empregaram técnicas de cruzamento convencionais para desenvolver o novo tomatinho cereja, batizado como BRS Zamir, em homenagem ao pesquisador israelense Dani Zao mir, conhecido estudioso de tomateiros.

 

Cada grama do fruto tem até 144 microgramas de licopeno contra as concentrações de 40 a 90 microgramas das demais variedades de tomate-cereja do mercado. Segundo os pesquisadores, ele é ainda três vezes mais produtivo que as variedades comuns, além de um sabor bem mais doce, devido ao equilíbrio entre açúcares e ácidos.

 — Não engorda e é doce como uma uva — assegura o agrônomo Leonardo Boiteux, pesquisador que lidera o programa de melhoramento genético da Embrapa Hortaliças e integrante da equipe que criou o novo tomate.

 

Segundo Boiteux, de cinco a oito tomatinhos por dia satisfazem a necessidade diária de licopeno (entre 10 a 60 miligramas) recomendada para a prevenção de doenças como o câncer. E isso se o tomate for consumido cru. Cozido, o licopeno do fruto se torna ainda mais facilmente assimilável pelo organismo. Isso porque o licopeno é o que se chama de termoestável, resiste bem ao calor. O tomate-seco, por exemplo, permanece riquíssimo desse nutriente.

 

— O cheiro agradável do molho do tomate que nós sentimos é do licopeno volatizado — explica Boiteux.

 

Fruto não é transgênico

 

A nova variedade não é transgênica, e pode usada tanto no cultivo orgânico quanto no convencional (com agrotóxicos). Já há cultivo orgânico comercial em São José do Rio Preto, em São Paulo. E o Zamir já foi avaliado com sucesso também em plantações em Goiás, Paraná e São Paulo.

 

A genética clássica foi usada para cruzar tomateiros até chegar ao resultado que se desejava. O grupo empregou técnicas moleculares para identificar os genes associados às características almejadas, e em que variedades de tomate eles se expressavam.

 

O tomate tem naturalmente genes de importância nutricional e para a agricultura, como os que conferem resistência a pragas e regulam o crescimento, explica Boiteux. Ao identificá-los, os cientistas cruzaram as variedades certas até chegar ao Zamir. O gene bif, por exemplo, faz com que o Zamir bifurque os cachos. Com isso, tem mais flores e, logo, mais frutos.

 

— Ele dá até 75 frutos por cacho enquanto que o normal é 12 — frisa o agrônomo.

 

Cápsulas de proteção

 

A vulnerabilidade a pragas faz do tomate uma das culturas onde mais se empregam agrotóxicos. Mas, por ter resistência natural maior a pragas como o fungo oídio, que impede a fotossíntese e mata a planta, o Zamir precisa de menos proteção. Com isso, a cultura desse tipo de tomate abre caminho para o cultivo com menos uso de agrotóxico.

 — Tudo é que como se aplica o agrotóxico. O cuidado no manejo é fundamental — observa o Boiteux.

 

Os tomates-cereja são uma boa fonte de licopeno porque são fáceis de vender e de consumir. Muita gente gosta de carregar caixas com o fruto cru na bolsa. O próximo passo do grupo é desenvolver tomates-cereja com mais luteína. Esse nutriente importante para a saúde dos olhos e na prevenção da catarata não é abundante nas plantas. Mas a equipe da Embrapa Hortaliças já sabe em que tomates procurar.

 

—Tomates grapes são ótimas opções nutricionais porque são pequenos e doces. Funcionam como cápsulas naturais na prevenção de doenças — diz o pesquisador da Embrapa.

 

 

Fonte: O GLOBO

 

 

 


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