Na contramão da safra brasileira de café, que deve ser farta em 2018/2019, os municípios da região de Cabo Verde, no sul de Minas Gerais, devem colher menos do que no ano passado, em função de um regime de chuvas irregular. A expectativa para a colheita que está em andamento é de 500 mil sacas do grão, metade do ciclo passado. “A safra que os demais produtores estão colhendo neste ano nós alcançamos na temporada anterior”, explica o proprietário da Fazenda Passeio, de Monte Belo, Adolfo Henrique Vieira Ferreira.
Ele espera colher 8 mil sacas nesta safra, 27,2% a menos que em 2017/2018, quando a produção chegou a 11 mil sacas na área de 230 hectares que pertencem à família há quatro gerações e onde se cultivam 17 variedades de café do tipo arábica.
A situação se repete nos municípios de Cabo Verde, Monte Belo, Campestre e Botelhos e destoa do que se vê no restante do sul de Minas, maior produtor de café arábica do País. “A safra está muito boa, devido ao clima favorável e à bienalidade positiva [alternância entre safras mais e menos produtivas]. Nós é que estamos na contramão. ”
Ferreira destina 60% da área aos cafés especiais, que possuem acima de 80 pontos na avaliação de qualidade da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). Na Passeio, entretanto, a referência são 83 pontos. Ferreira recebe até 50% acima do valor pago pela saca de café convencional por seu grão especial.
Ele começou a produzir grãos de alta qualidade para fornecer à italiana Illycaffè, há 20 anos. Hoje, vende parte da produção para a empresa e mantém parcerias com cerca de 30 importadores. “Não tenho volume suficiente para vender ao mercado interno, que tem uma demanda crescente”, afirma. Ferreira estima que os cafés com maior valor agregado respondam por 25% da safra brasileira.
A expectativa de uma safra farta no Brasil, aliada aos maiores estoques nos países compradores, pressiona as cotações. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em junho a média dos contratos na Bolsa de Nova York (ICE Futures) foi de 118,75 centavos de dólar por libra-peso, queda de 2,7% em relação a maio. No mercado físico, a saca produzida na região do sul de Minas Gerais está cotada a R$ 460 para o café arábica.
A cotação preocupa, mas não desanima a proprietária da Fazenda Capoeira Coffee, de Areado, sul de Minas, Marisa Contreras. Ela espera colher 4 mil sacas nos 100 hectares cultivados com as variedades Catuaí, Mundo Novo e Rubi. “A safra deve ser 50% superior a do ano passado”, afirma.
Da produção total, 60% é composta por cafés especiais e todo o volume é destinado ao mercado externo, especialmente Japão, EUA e Argentina, sendo 10% destinados para a Illycaffè. “Quanto mais o produtor evolui do café commodity para o especial, menos sensível fica ao preço”, destaca Marisa recebe de 30% a 40% a mais pelo grão de qualidade superior. /*A repórter viajou a convite da Illycaffè.
Fonte: DCI