A elevação dos preços da soja e do milho freou o avanço do confinamento de bovinos. No ano passado, 3,3 milhões de animais foram terminados no cocho, número que deve se repetir em 2018, estima a Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon).
“Os custos aumentaram 25% em 2017, enquanto a arroba não se valorizou na mesma proporção”, disse o gerente executivo da Assocon, Bruno de Jesus Andrade.
No começo do ano, a entidade projetava um crescimento de 12% ante 2017, o que foi revisado depois de grandes confinamentos e boiteis de Mato Grosso e Goiás não fecharem o número de animais projetado, destacou Andrade em Conferência Internacional de Pecuaristas (Interconf).
O presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg), Maurício Velloso, acredita que haverá um recuo no setor. Caso a perspectiva se concretize, o número de animais confinados no País chegaria a 2,9 milhões de cabeças neste ano. “Achamos que teríamos um aumento de 9% a 13%, mas depois da greve dos caminhoneiros, essa perspectiva deu ré e a queda deve ser de no mínimo 12%”, estima.
Velloso foi eleito na segunda-feira (10) para compor o conselho diretor da associação, que também será formada por Sergio Przepiorka, dono do Boitel Chaparral, de Rancharia (SP), um dos maiores confinamentos de gado do Brasil, e por outro integrante não definido.
Embora tenha uma perspectiva mais otimista para o número de animais confinados neste ano, o gerente de cofinamento da DSM, Marcos Baruselli, concorda que a elevação dos preços de soja e milho diminuíram o número de animais terminados no cocho. “Esperávamos algo em torno de 5 milhões de animais, mas esse número deve fechar o ano em torno de 4,7 mil cabeças.”
Segundo Velloso, essa queda foi puxada pelo aumento de custos, como o causado pelo fechamento das unidades de fertilizantes nitrogenados da Petrobras na Bahia e em Sergipe em março.
“Isso deixou as indústrias dependentes de importação e os preços dobraram de janeiro até agora”, observa. Além disso, ele alerta para a cobrança de Pis/Cofins de 10% sobre o preço da ureia pecuária, tributo que não incide sobre o mesmo produto voltado para agricultura. “Essa elevação de custos vai levar a uma redução no pacote tecnológico e a uma menor produtividade.”
A má notícia para os pecuaristas é que os preços de soja e milho, que são base da alimentação do gado confinado, não devem ceder tão cedo. “A guerra comercial entre China e Estados Unidos deve fazer com que o Brasil exporte o máximo possível desses grãos e que o esmagamento de soja caia ao mínimo possível, para suprir a demanda por biodiesel. Com isso, vamos ter uma menor oferta de farelo e os preços serão sustentados”, disse o responsável pelo departamento comercial do complexo soja da Cargill, Rafael Marsola.
Arroba
A cotação da arroba, por outro lado, tende a apresentar uma melhora, ainda que não expressiva, até o final deste ano. “O dólar já é um gatilho importante para isso, pois estimula as exportações. Mas se não tivermos uma recuperação mais vigorosa da economia, essa valorização da cotação da arroba ficará capenga”, afirma o diretor da Radar Investimentos, Leandro Bovo. “O início desse processo de alta mais sustentada já está ocorrendo e a curva de preços ascendente deve ser vista até 2019.”
A cotação atual do boi gordo no mercado físico em São Paulo está próxima dos R$ 147 por arroba, enquanto os contratos para outubro no mercado futuro estão em R$ 152.
“O ideal para o pecuarista seria uma arroba de R$ 160, mas sabemos que esse valor não será atingido sem reação do consumo interno”, concluiu Andrade. /*A repórter viajou a convite da Assocon.
Fonte: DCI