Mesmo com a perspectiva de área menor de plantio, a safra de cana-de-açúcar em 2019/20 no Centro-Sul – principal região para a cultura – deverá ser mais produtiva diante da recuperação do clima, canaviais menos envelhecidos e melhora no manejo.
“A área de colheita deve retrair 1%, enquanto o volume deve ser próximo da safra atual”, declarou o gerente de marketing e negócios do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Luiz Antonio Dias Paes, em coletiva de imprensa. A previsão para o ciclo atual é de cerca de 570 milhões de toneladas.
De acordo com o executivo, o plantio de cana vem perdendo espaço para grãos em algumas áreas. “Produtores que trabalham com as duas culturas estão direcionando para a soja.” A exemplo do que ocorre na safra atual, a produção de etanol dever continuar privilegiada em detrimento do açúcar, em função dos preços internacionais. A Tailândia e a Índia tiveram forte crescimento na produção do adoçante, causando queda no valor do produto. Paralelamente, a política da Petrobras de paridade internacional de preços de combustíveis permitiu a valorização do etanol. “Esta deve ser novamente uma safra alcooleira. O açúcar não dever ter mudanças de preços”, apontou o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, no mesmo evento.
Na semana passada, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) autorizou o Brasil a questionar, na Organização Mundial do Comércio (OMC), a política indiana de apoio à exportação. Em outubro, o País já havia acionado a organização contra tarifas chinesas aplicadas a importação de açúcar. “Essas tarifas fizeram com que o mercado se deslocasse do Brasil. Questionamos na OMC e abriu uma possibilidade de acordo”, declarou o diretor executivo da Unica, Eduardo Leão de Sousa.
Safra atual
A moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul totaliza 556,85 milhões de toneladas no acumulado da safra 2018/19 (até 15 de dezembro), queda de 4% em relação ao mesmo período do ciclo anterior. A estimativa é que o volume atinja 570 milhões de toneladas até abril. “A precipitação abaixo da média no início da safra prejudicou o acúmulo de biomassa, reduzindo a produtividade média”, explica Paes. Os únicos locais que apresentaram crescimento foram o Mato Grosso do Sul e a região de Piracicaba (SP). “Mas isso se deve à base baixa em Piracicaba”, ressalta Paes.
Na primeira metade de dezembro, a produção de açúcar caiu 20,1% em relação ao mesmo período de 2017, somando 408,3 mil toneladas. O etanol teve aumento de 34,7% na mesma base, com 681,5 milhões de litros. No acumulado da safra, a quantidade fabricada de açúcar foi de 26,17 milhões de toneladas, queda de 26% sobre o mesmo período anterior, enquanto a produção de etanol cresceu 18,93% sobre a mesma base, alcançando 29,77 bilhões de litros. O mix alcançou 35,56% de açúcar e 64,44% de etanol.
RenovaBio
A diretora presidente da Unica, Elizabeth Farina, acredita que o RenovaBio – política nacional de biocombustíveis – não deverá passar por retrocessos na gestão Jair Bolsonaro. “É um governo que se apresenta como mais liberal, de acordo com a própria equipe de transição. A estrutura do RenovaBio converge com essa agenda”, diz, destacando que o programa não tem previsão de subsídios, mas de metas.
A dirigente irá deixar o comando da Unica no início do próximo ano e aproveitou a coletiva para fazer um balanço de sua gestão. “Foram seis anos promovendo uma visão relacionada ao funcionamento do mercado. Tivemos a aprovação do RenovaBio e vimos essa regulamentação avançar.”
Fonte: DCI