Além dos problemas internos, a desaceleração do crescimento global e a guerra comercial colocam fortes desafios para o Brasil. É o que avaliaram analistas da Coface, durante um evento ontem na capital paulista.
A economista da seguradora de crédito para a América Latina, Patricia Krause, destacou que há uma análise de que o Brasil poderia se beneficiar com a guerra comercial entre os Estados Unidos (EUA) e a China.
Diante do conflito, o País poderia elevar a venda de soja para a nação asiática, ocupando a lacuna de exportação deixada pelos EUA. "No entanto, há alguns pontos importantes que precisamos pensar. Um deles é que a gripe suína impactou cerca de metade dos rebanhos chineses e isso significa que o país pode reduzir a importação da soja utilizada para ração, por exemplo", afirmou Krause.
"Portanto, a demanda pela soja brasileira pode não ser tão crescente assim", acrescentou. Krause disse ainda que o contexto de guerra comercial também favorece, a princípio, as culturas de milho e algodão. Porém, na medida em que os agricultores passarem a direcionar a sua produção mais para esses produtos, outras culturas poderiam ser prejudicadas, provocando um aumento de preços dessas últimas.
Krause lembrou que as nossas exportações tiveram um bom desempenho nos anos de 2017 e 2018, puxadas, especialmente, pela demanda chinesa e norte-americana. Contudo, o mercado argentino, nosso terceiro principal destino de exportação, continuará colocando desafios para o Brasil, especialmente para a nossa indústria de automóveis.
Ela ressaltou que o Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina vem caindo há oito meses nas sondagens e que as previsões de inflação só têm deteriorado. Atualmente, a Argentina acumula uma inflação de 54,7% nos 12 meses encerrados em abril. Além disso, há a incerteza em decorrência das eleições presidenciais que irão ocorrer em outubro.
Nas projeções da Coface, o PIB argentino deve registrar queda de 1,5% este ano, após retração de 2,5% em 2018. Já para o Brasil, a estimativa para 2019 ainda prevê alta de 1,5%, mas Krause ressalta que a seguradora deve revisar o número para baixo, após a divulgação do PIB pelo IBGE no próximo dia 30 de maio. A Coface prevê expansão para 2019 para países latinos como o Peru (4%), Chile (3,2%), Colômbia (3,1%) e México (1,7%). Já para o Equador, projeção é de queda de 0,5%.
Fluxo para emergentes
Se de um lado há riscos para o comércio, por outro, a perspectiva de juros mais baixos pelo mundo é um certo alívio para o Brasil. Tanto o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), como o Banco Central Europeu (BCE) já sinalizaram que não devem elevar juros pelos próximos meses.
Para Krause, esse cenário abre a possibilidade para o Brasil e países emergentes manterem suas taxas básicas em níveis historicamente baixos. A taxa básica de juros do Brasil, a Selic, encontra-se em 6,5% ao ano. "Apesar de ainda ser alta em comparação a outros países, a Selic está em seu menor nível histórico", disse.
"Os indicadores de atividade econômica têm mostrado um fraco desempenho e, com isso, passou a surgir um debate se o Banco Central não deveria reduzir mais os juros. Porém, em seus comunicados, a autoridade monetária tem reforçado a importância de manter a taxa estrutural da economia mais baixa, ou seja, em um nível que não provoque pressão inflacionária. O BC vincula esse cenário às reformas", comenta.
A economista acredita que o BC não deve cortar juros até ter no horizonte a aprovação da reforma da Previdência Social, o que pode acontecer só no segundo semestre.
O economista-chefe do grupo Coface, Julien Marcilly, reforçou durante o evento que diversos países europeus passam hoje por uma desaceleração da produção industrial e por um aumento da insolvência das empresas. Esse grupo inclui países como Alemanha, Inglaterra, França e Itália.
Sobre a Inglaterra, ele citou que os problemas provocados pelo Brexit. Neste país, há setores que correm um alto risco de insolvência como: a agricultura, a construção civil, automotivo e energia.
Fonte: DCI