Financial Times, de Londres
Os preços internacionais da soja poderão explodir neste verão [no Hemisfério Norte] por causa da deterioração dos estoques dos Estados Unidos antes da entrada da nova safra do país, no outono. O risco é elevado por causa dos problemas climáticos que afetaram a safra latino-americana (principalmente na Argentina) que está terminando de ser colhida e da até agora forte demanda da China.
Na bolsa de Chicago, as cotações aumentaram cerca de 40% desde o início de março. Nesta semana, os contratos futuros com vencimento em julho superaram US$ 12 por bushel, maior patamar em oito meses (ver matéria abaixo). Julho é um bom termômetro porque é justamente quando o hiato da oferta ficará mais claro.
"O mercado está em missão de reconhecimento", afirma Greg Wagner, analista sênior da Ag Resource, em Chicago. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) projeta que os os estoques americanos cairão para 3,53 milhões de toneladas no fim do ciclo 2008/09, em algumas semanas, mas consultorias privadas como a Informa Economics, acredita em um volume menor.
A estimativa do USDA significa que os estoques americanos representarão 4,3% do consumo anual do país, o menor nível em mais de quatro décadas, e qualquer declínio mais acentuado poderá tornar a oferta preocupantemente apertada no país.
Como as exportações americanas seguem acima das previsões do governo dos EUA, Wagner afirma que há uma clara possibilidade de que o quadro de oferta e demanda fique tão apertado quanto no ano passado, quando o bushel do grão atingiu sua máxima histórica e superou US$ 16 em Chicago.
Richard Feltes, chefe de pesquisas da MF Global, estima que as cotações poderão atingir entre US$ 12,80 e US$ 13,50 por bushel neste verão, impulsionando os preços de outras commodities que competem por área com o grão.
Entretanto, Anne Frick, analista sênior de oleaginosas da Bache Commodities, diz que os preços da soja estão vulneráveis a reveses como pequenos incrementos na oferta, e que tais reveses podem reverter a tendência. Entre eles, destaca, está a possibilidade de a China adiar compras até a próxima safra americana estar à disposição, o que se dará entre outubro e novembro próximos.
A China representa quase metade das importações globais de soja, e suas compras aumentaram 36,2%, para 13,9 milhões de toneladas, no primeiro quadrimestre sobre igual período de 2008.
Veículo: Valor Econômico