Inflação em alta teve impacto negativo nas negociações salariais do primeiro semestre
A inflação impediu que parte dos trabalhadores brasileiros conseguisse aumento real nas negociações salariais realizadas este ano. No primeiro semestre, 73,5% dos acordos entre patrões e empregados resultaram em reajustes salariais superiores à inflação, informa o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). No mesmo período de 2007, o número foi maior: chegou a 87,1% dos casos.
Para os especialistas, a explicação está na alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), referência para negociações de reajustes salariais. Entre julho de 2007 e junho de 2008, a inflação medida pelo INPC ficou em 7,28% - índice muito superior aos 3,97% que basearam as negociações do ano anterior. Isso significa, por exemplo, que uma categoria que teve aumento de 6% a partir de julho de 2007 conseguiu reajuste real de 2,03% naquele ano e teve perda de 1,28% neste ano.
“A inflação alta abocanhou parte da renda do trabalhador e tornou um pouco mais difícil a reposição das perdas salariais”, afirma José Silvestre, coordenador de Relações Sindicais do Dieese.
Depois de quatro anos de crescimento, essa foi a primeira vez que o porcentual de aumentos reais registrou queda em relação ao ano anterior. Entretanto, não é má notícia, diz Silvestre. “Os números de 2008 são o terceiro melhor resultado desde 1996”, ressalta o coordenador do Dieese. “Eles só representam uma queda porque o ano de 2007 foi excepcional.”
Os trabalhadores também não parecem descontentes. “De forma geral, as negociações foram muito bem-sucedidas”, declara Wagner Freitas, secretário de políticas sindicais da Central Única dos Trabalhadores (CUT). “A economia permanece aquecida, as empresas continuam lucrando e, por isso, puderam aceitar a maior parte das propostas dos sindicatos, reajustando o salário de seus empregados.”
Para Freitas, o problema ficou restrito a categorias enfraquecidas. “Os trabalhadores que não conseguiram aumento real estão concentrados principalmente nos setores de serviços e comércio”, observa. Historicamente, esses são menos articulados e não se unem para pressionar os patrões.”
Os dados do Dieese confirmam essa tese. Enquanto na indústria apenas 18,8% dos reajustes foram iguais ou inferiores à inflação, no comércio o número chegou a 20% e no setor de serviços, a 36%.
Sérgio Amad, coordenador do núcleo de Recursos Humanos e Relações Trabalhistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), diz que o resultado das negociações sinaliza que o Brasil viverá agora um crescimento menos vigoroso. “Nos dois últimos anos, assistimos a um desenvolvimento muito acelerado da economia, que permitiu a reposição de perdas salariais que se acumulavam havia tempos. Agora, como o trabalhador já conseguiu recompor sua renda e o empresariado tem dúvidas sobre qual será o ritmo de crescimento do País nos próximos meses, os reajustes tendem a ser menores.”
Bom salário, melhor reajuste
Quem já tinha um bom salário ganhou um ainda melhor. De acordo com pesquisa realizada pela consultoria Hay Group, neste ano, o salário dos executivos de alto comando das empresas brasileiras subiu até 9,8% em relação a 2007. Entre os demais executivos, a alta também foi expressiva: chegou a 8,6%, somando os valores referentes ao salário-base e ao bônus.
Quer saber quanto eles ganham por ano? De acordo com o estudo, a remuneração anual chega a R$1 milhão.
O estudo Top Exec 2008 - que entrevistou 2.514 executivos de 227 empresas - revela que, na média, os Incentivos de Curto Prazo pagos em 2008 cresceram 17,5% em relação a 2007. Todas as companhias pesquisadas oferecem Incentivos de Curto Prazo (ICP): 89% delas sob a forma de participação nos lucros (PLR), 71% por bônus, 60% fazem as duas coisas e 7% utilizam outras formas.
Segundo os resultados da pesquisa, 100% das empresas possuem uma estrutura salarial formal para os níveis executivos e apenas 5% dessas empresas não incluem o primeiro executivo nessa estrutura. “Os critérios para definir as faixas salariais são, na maior parte, de acordo com o mercado e por meio de acordos coletivos” afirma Cláudio Costa, diretor da Hay Group.
Veículo: Jornal da Tarde