Acionista do Pão de Açúcar comemora lucro maior no 2º trimestre, fala do desafio de envelhecer com qualidade de vida e diz que foi um erro ter dado muito espaço aos executivos
AOS 72 ANOS , Abílio Diniz vive talvez um de seus melhores momentos. Na semana passada, o Pão de Açúcar, o maior grupo varejista do país, anunciou um lucro 155% maior no segundo trimestre. Amanhã o empresário lança o site www.abiliodiniz.com.br para compartilhar experiências de vida. O objetivo desta entrevista era Diniz falar do lançamento do site, mas ele se estendeu por um tema caro a todos: como envelhecer com qualidade de vida. Prestes a nascer o seu sexto filho e casado com uma mulher de 37 anos, ele dá uma série de dicas, mas uma é considerada essencial. "Se você puder escolher uma coisa, escolha sempre ser feliz."
Leia a seguir a entrevista de Abílio Diniz à Folha.
FOLHA -Por que o site?
ABÍLIO DINIZ - Há cinco anos, fiz um livro. Inicialmente, era para ser uma história empresarial, uma minibiografia. Descobri que havia coisas na minha vida que valiam a pena colocar e acabei escrevendo o livro para se ter uma vida feliz, saudável e até se buscar maior longevidade. O livro foi muito bem recebido. Até hoje, ainda encontro pessoas que, às vezes, me param e dizem: desde que li o seu livro, faço sempre as suas orações. Valeu a pena. As pessoas veem muito o Abílio pelo lado do esporte, da vida saudável, mas tem um lado meu na parte de espiritualidade que também é muito importante. Foi uma coisa que marcou muito as pessoas que leram o livro. E o que é o site? O site é um pouco a continuação de tudo isso. Quero continuar passando coisas da minha experiência para que as pessoas pensem sobre aquilo que eu faço e depois decidam o que fazer para ter melhor qualidade de vida. O site não é uma coisa que o Abílio está fazendo só para o Abílio. Claro que estou fazendo para mim também. É claro que eu quero ter uma vida saudável, viver o máximo que eu puder. Tenho uma mulher de 37 anos, uma filha de três e um outro a caminho, o Miguel, para o começo de novembro. Sou ousado, não é? Mas eu acho que tem que ser assim. Você tem que estar preparado para o que Deus determinar para você. Você tem que estar preparado sempre para a vida acabar a qualquer momento, mas você tem que acreditar que é eterno.
FOLHA - Qual a sua receita para o envelhecimento?
DINIZ - Eu quero que as pessoas envelheçam com alegria. Tenho amigos que estão deprimidos aos 50 anos. Não, o melhor está pela frente. As pessoas têm que olhar isso com alegria. Quando vão envelhecendo, há pessoas que ficam um pouco envergonhadas de perder algumas das suas características, de ter limitações e acabam às vezes não lutando, não fazendo coisas que possam melhorar esse quadro. O quadro não é totalmente reversível, mas você pode melhorá-lo. Você vai envelhecendo e vai adquirindo muito mais conhecimento, mais sabedoria, uma capacidade de administração da vida e de relacionamento muito melhor. O que pode estragar e comprometer isso? A sua capacidade física e mental. Se você estiver com os dois bem, aos 50 anos, o melhor está pela frente. Não há dúvida sobre isso. Serão os melhores anos de sua vida.
FOLHA - E como envelhecer com boa qualidade física e mental?
DINIZ - É muito importante procurar fazer atividades novas, coisas novas, que você não faz. Atualmente, por exemplo, eu tenho agendados quatro dias por semana de aulas de francês. Já falo francês há algum tempo, mas eu resolvi que não bastava falar. Tinha que falar bem e ser fluente. Para você conservar a sua capacidade mental e o seu cérebro ativo você deve se propor a aprender algo novo. Por isso, me propus a melhorar muito o meu francês. Uma coisa que você nunca pode descuidar também é da musculação. Sempre trabalhei os músculos. Existe um negócio chamado sarcopenia, que é a perda de massa muscular com o envelhecimento. Qual é a maneira de você contornar esse problema? Fazendo um pouco de musculação. Precisa ir para a academia e malhar? De jeito nenhum. Basta fazer um pouquinho de musculação, principalmente nas pernas. Isso serve para evitar queda, para ter mais equilíbrio. Você precisa ter um mínimo de massa para você conseguir se equilibrar, para você se mexer com um pouco mais de agilidade, para subir escada, para não andar como enceradeira, arrastando o pé no chão. Não se deve andar desse jeito. O ideal é sempre a pessoa fazer um pouco de fortalecimento muscular. Uma outra coisa que as pessoas dizem é que correr é ruim porque provoca muito impacto, machuca. Mas não dá para deixar de ter impacto. Tem que ter sim. Um pouco pelo menos. Uma das coisas que mais se veem nos idosos é eles sofrerem uma queda, quebrarem um osso. Isso acaba com a vida deles. A volta é lenta, complicada, nunca fica do mesmo jeito. Por isso é importante conservar a densidade óssea. O final da vida do meu pai se acelerou depois que ele quebrou o fêmur. Dali para a frente, ele nunca foi o mesmo. Já estava com 90 anos. É importante você ter que conservar a densidade óssea e para isso tem que ter um pouco de impacto. Como fazer isso? Anda, caminha, não precisa correr. Não precisa caminhar longas horas, caminha meia hora, 40 minutos, e isso vai gerar o impacto necessário. Existem algumas coisas em que eu acredito na vida. Se você só puder eleger uma coisa na sua vida, escolha sempre ser feliz e balize o resto por isso. Balize o seu esporte, balize o seu trabalho, na medida do possível, o seu lazer, a sua vida familiar, o seu relacionamento.
FOLHA - O esporte contribui...
DINIZ - Essa é a ideia. Mesmo que a pessoa não goste, é preciso, às vezes, ter um mínimo de determinação. Acho que uma das minhas principais características é essa. Ninguém precisa ser como eu, mas é preciso ter um mínimo de determinação. O importante é que dá para uma pessoa ter uma vida muito mais saudável. Dá para evitar uma série de coisas como diabetes, pressão alta, colesterol alto, tudo isso é perfeitamente evitável sem remédio, só com um pouquinho de atividade física, de determinação na alimentação, um pouco de noção que não dá para você evitar o estresse totalmente, mas dá para você administrá-lo, controlá-lo. Até porque uma vida completamente sem estresse também não tem graça. É chato, mas você tem que saber lidar com o estresse.
FOLHA - Mas se uma pessoa tem um grande problema financeiro ou está desempregada, como ela vai ter condições de mudar a vida?
DINIZ - Você não consegue deixar de evitar problemas na vida. Muitos podem dizer: "Ah! O Abílio fala essas coisas porque ele é rico, cheio da grana, tem um monte de coisas e pode falar o que quiser". Escute, eu já fui sequestrado, num sequestro completamente maluco, onde eu tinha certeza que eu ia morrer, esta empresa [o Pão de Açúcar] já quase desapareceu nos anos 90 e eu comecei a minha vida sem dinheiro, sem nada. Fui para os Estados Unidos sem nada, para estudar. Eu só me tornei controlador desta empresa em 1994. Até lá, não era empregado, mas era um membro da família. Dificuldades? Já enfrentei muitas. Mas como é que uma pessoa pode ser feliz se não tem grana, está desempregada, tem um familiar doente ou perdeu uma pessoa querida? Essas coisas acontecem. O importante é você dizer: aconteça o que acontecer, eu sou um cara que se propõe a ser feliz. Esse é o meu norte. O resto entra pelos lados. As dificuldades que aparecem você tem que administrar.
FOLHA - O sr. não toma álcool?
DINIZ - Tomo sim, eu gosto das mesmas coisas que você. Eu gosto de tomar um vinhozinho e vinho é um negócio recente na minha vida. Numa determinada altura, não faz muito tempo, no máximo uns quatro anos, descobri que vinho era melhor que Coca-Cola. Sério, não estou brincando. Não tomava vinho porque não gostava. Não é porque fazia mal. Não tomava porque não gostava. Tomava de vez em quando até uma cervejinha e um uísque diluído com club soda, mas não tomava vinho. Descobri vinho há uns quatro anos e gosto. Da mesma forma que eu gosto de pizza, lasanha, feijoada, churrasco... Escute, são as coisas boas da vida.
FOLHA - O sr. diria que está num dos seus melhores momentos?
DINIZ - Estou num momento muito bom da minha vida, inclusive da vida empresarial. Eu, em 2003, me propus a fazer o que tinha que fazer: a profissionalização do Pão de Açúcar. Eu saí da diretoria executiva, meus filhos Ana e João Paulo, que trabalhavam comigo, saíram também, e eu os trouxe para o conselho. Saí da minha função de executivo e fui para o conselho, mas fiquei na mesma sala compartilhada da diretoria: me propus a um trabalho de profissionalização e dei um espaço imenso para os dois presidentes que nós tivemos nesses cinco anos, de 2003 a 2007.
Foi um erro ter dado muito espaço para os executivos. Tivemos um período que não foi bom para a companhia. Do fim de 2007 para cá, as coisas mudaram com a chegada do Cláudio Galeazzi. É um jovenzinho de 69 anos com quem eu me entendo maravilhosamente bem. Temos uma sinergia excelente. É um grande companheiro. A companhia deixou de andar de lado, passou a retomar o rumo.
Veículo: Folha de S.Paulo