Computadores: Mesmo com a forte concorrência dos portáteis, micros de mesa só deixarão liderança em 2012
Ele reinou absoluto desde seu nascimento, em 1981, quando a IBM revolucionou o mundo da tecnologia ao levar seu primeiro Personal Computer (PC) para além das fronteiras dos escritórios. O computador de mesa, finalmente, deixava de ser uma ferramenta destinada a especialistas para entrar na casa das pessoas comuns.
De lá para cá, os desktops foram objeto de uma infinidade de inovações, alterando por completo seus formatos e recursos. Na última década, porém, a explosão da internet e a busca obsessiva pela mobilidade colocou essa capacidade de transformação em xeque: afinal, os desktops estão com os dias contados?
De acordo com alguns números de mercado, o cenário parece pouco animador para os micros de mesa. Em mercados desenvolvidos, como Estados Unidos, Japão e Alemanha, os notebooks já representam, de longe, a maior fatia dos PCs vendidos. Mundialmente, os notebooks mostram sua força em resultados de companhias como a Apple. No trimestre encerrado em julho, a Apple apresentou uma queda de 10% na venda de PCs de mesa - de 943 mil para 849 mil unidades -, enquanto os notebooks cresceram 13%, para 1,75 milhão de máquinas.
No Brasil, quarto maior mercado de PCs do mundo, os laptops já são um terço do mercado. Resultados de companhias como a Positivo Informática ajudam a reforçar essa tendência. No primeiro semestre, mesmo sob efeito da crise econômica, a Positivo vendeu 288 mil unidades de seus portáteis, 52% a mais que o volume vendido entre janeiro e junho de 2008. No mesmo período, a venda de PCs de mesa caiu 16%. Em junho do ano passado, os portáteis respondiam por 29% dos micros vendidos pela companhia, diz César Aymoré, diretor de marketing da Positivo. Em junho deste ano, essa participação saltou para 40,7%.
O interesse pelos equipamentos portáteis está claro para redes de varejo como a Fnac, onde os computadores de mesa perderam o posto de preferidos do consumidor há quatro anos. Segundo Leandro Cançado, diretor de eletroeletrônicos da varejista francesa, laptops e netbooks representam hoje 80% das vendas de computadores. Nas prateleiras estão 45 modelos de notebooks, 12 de netbooks e 30 computadores de mesa.
A popularidade dos portáteis, diz Cançado, está ligada não só aos avanços tecnológicos e à queda de preço dos equipamentos, mas também à evolução de acessórios como roteadores e pen drives. "A tendência é de que os desktops representem menos de 20% das vendas, mas não desapareçam. Eles vão evoluir e virar centros de entretenimento."
Embora o ritmo dos laptops esteja acelerado no Brasil, a previsão é de que os micros de mesa vão preservar seu domínio no país por um bom tempo. Dos 10,4 milhões de PCs que serão vendidos este ano, 67% ainda serão desktops, de acordo com a consultoria IDC. A previsão é de que essa participação caia gradativamente - para 61% no ano que vem e 53% em 2011. Os notebooks, diz o analista José Martim Juacida, só serão maioria em 2012, quando os micros de mesa ficarão com 46% do mercado.
A resistência dos desktops no Brasil deve-se a uma combinação de fatores, a começar pela renda do consumidor que está comprando seu primeiro micro. "O poder aquisitivo de grande parte da população melhorou, mas ainda não é alto [o suficiente para adquirir um portátil]", diz Juacida.
Hoje, apenas 25% dos domicílios brasileiros têm computador. A classe C, a mais robusta do país, é a que mais tem puxado as vendas do setor. Essa força do mercado local de desktops foi o que levou a Hewlett-Packard (HP) a eleger, neste ano, o Brasil e a China como suas duas prioridades mundiais para vendas de micros de mesa, diz Dante Avanzi, gerente de desktops da HP.
O poder de resistência dos desktops não é influenciado somente pelo bolso do usuário novato. O perfil de uso também conta. "Para muita gente, o computador ainda não é pessoal - é familiar", diz Juacida, do IDC. A mesma máquina é compartilhada por vários membros da família, do pai que usa o computador para trabalhar aos filhos pequenos, mais interessados em navegar na web ou em disputar games on-line. Nesse tipo de arranjo, afirma o analista, a preferência recai sobre o desktop, porque ele permite aos pais um controle mais eficaz do acesso dos filhos, entre outras razões.
Outros fatores jogam a favor do PC de mesa. A Accept, fabricante acostumada às vendas empresariais, encontrou na segmentação o caminho para entrar no varejo de computadores. Em junho, ela lançou uma linha com sete equipamentos voltados para quem gosta de jogos eletrônicos. "O gamer não consegue jogar em um notebook", diz Silvio Campos, diretor da Accept.
Segundo o executivo, 5% das vendas de PCs no Brasil são feitas por quem gosta de jogar. Para este público, um notebook, além de ser desconfortável, não é capaz de oferecer o desempenho necessário para rodar jogos mais modernos. As máquinas da Accept custam de R$ 2,5 mil a R$ 10 mil e chegam a pesar 35 quilos.
Essa capacidade de transformação do desktop é que garantirá seu lugar no futuro, diz Tomi Ahohen, consultor e especialista em telecomunicações da Universidade de Oxford. "Os notebooks vão engolir cada vez mais o espaço dos desktops, mas esses PCs não vão morrer."
A garantia de sobrevivência dos desktops, comenta Ahohen, está atrelada ao seu mais fiel usuário: as empresas. "Imagine uma central de atendimento ao cliente. É uma situação em que a mobilidade oferecida pelo notebook é absolutamente dispensável."
O especialista acredita, no entanto, que a capacidade de expansão mundial dos micros de mesa começa a arrefecer. "Ultrapassamos a marca de 1 bilhão de desktops no mundo, mas nunca chegaremos à de 2 bilhões, ao passo que atingiremos um volume de 7 bilhões a 9 bilhões de celulares em todo o planeta."
Veículo: Valor Econômico