Garoto vai fabricar chocolate Nestlé

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Alimentos: Da unidade de Vila Velha vão sair 60% dos ovos da multinacional para a Páscoa do ano que vem

 

A fábrica da Garoto em Vila Velha (ES) vai produzir chocolates da Nestlé pela primeira vez desde 2002, quando a multinacional suíça comprou a fabricante nacional. Até agora, apenas produtos Garoto desenvolvidos após a aquisição, como o Talento Cream, foram produzidos em unidades da Nestlé. Nos demais itens, as duas marcas mantinham produções separadas. Mas a partir desta semana, além dos chocolates com a marca Garoto, uma das linhas de produção da planta capixaba será dedicada a produtos da "companhia mãe" - mesmo sem que tenha saído uma decisão judicial final sobre a aquisição.

 

O assunto tramita no Tribunal Regional Federal (TRF) de Brasília. A batalha judicial começou em 2004, após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ter vetado o negócio e determinado a venda da Garoto. A Nestlé recorreu ao Judiciário e obteve uma decisão que derrubou o veto. O Cade, então, entrou com o recurso que está sob análise do TRF.

 

"Investimos R$ 200 milhões em novas linhas de produção na fábrica da Garoto", disse Ivan Zurita, presidente da Nestlé Brasil na sexta-feira em Vila Velha, durante cerimônia em comemoração aos 80 anos de fundação da Garoto. Essas novas linhas aumentaram a capacidade de produção da planta em 30%. Uma delas começa a produzir nesta semana 60% dos ovos da Páscoa 2010 da Nestlé.

 

"Essa é uma linha diferente das outras. É 'flex': na temporada de produção para a Páscoa, faz ovos. Quando estamos fora desse período, em vez de ficar parada, o equipamento fabrica chocolates moldados (tabletes e bombons)", explicou o executivo, enquanto atendia a seguidos pedidos de funcionários da unidade de Vila Velha para posar com eles para fotos de recordação.

 

A Nestlé produziu 50 milhões de ovos para a Páscoa deste ano e para a próxima planeja chegar a 60 milhões. "Estamos apostando que vamos vender mais em 2010, porque teremos agora mais estrutura para bancar essa operação nervosa que é a Páscoa. Produzimos o que equivale a 15% a 20% de nosso faturamento do ano para vender tudo em uma semana", disse Zurita. Até agora, a produção de ovos se concentrava na fábrica da Nestlé em Caçapava (SP). Mas a maior parte estava sob a responsabilidade de empresas terceirizadas. Os 40% que não serão produzidos no Espírito Santo continuarão em Caçapava, segundo ele.

 

A transferência só está sendo feita agora, quase oito anos após a aquisição, porque, segundo ele, a companhia precisou esperar vencer os contratos que tinha com os fabricantes terceirizados. "Nossa decisão de trazer parte dessa linha para Vila Velha não tem nada a ver com o Cade", disse o presidente.

 

Em janeiro, dois desembargadores do TRF de Brasília votaram a favor do reenvio do processo de aquisição da Garoto ao Cade, para reapreciação. Mas o julgamento foi interrompido por pedidos de vista do terceiro desembargador que analisava a questão e até agora não foi retomado. Na sexta-feira, Zurita afirmou não acreditar que a compra possa ser revertida pelo Cade. "Não considero essa hipótese. Em nenhum momento tive um plano B. Tanto que desde o fechamento da aquisição nós já investimos mais do que pagamos pela empresa", afirmou. Até agora, a Nestlé aplicou R$ 420 milhões na unidade (incluindo as novas linhas). O valor de compra da Garoto, segundo Ferdinand Meyerfreund, ex-sócio da empresa e filho de seu fundador, Henrique Meyerfreund, foi de R$ 400 milhões.

 

"As decisões anteriores do Cade foram anuladas por terem sido baseadas em imperfeições", disse Zurita. Até o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), presente no evento, criticou o órgão antitruste. "Essa questão vem sendo tratada com um viés acadêmico sem nenhuma ligação com a realidade de mercado. O Cade está absolutamente equivocado", afirmou. "Os números provam que o negócio só fez bem par a Garoto e para o Estado", completou o governador, em referência ao faturamento da Garoto, que passou de R$ 520 para R$ 1,7 bilhão, desde que a multinacional assumiu o controle da companhia.

 

No primeiro semestre deste ano, a Nestlé teve crescimento de vendas de 7,2% no Brasil, segundo Zurita. "A expectativa é continuar nesse ritmo e fechar o ano com um faturamento de R$ 15 bilhões", declarou. No ano passado, a Nestlé faturou R$ 13,6 bilhões no país, o segundo maior mercado da empresa no mundo.

 

Veículo: Valor Econômico


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