Atrasado em pelo menos dois anos frente aos seus maiores concorrentes, o Carrefour prepara uma série de ações no Brasil para reduzir o impacto ambiental de suas lojas e produtos.
Vice-líder de mercado no país, com participação de 14%, o grupo varejista estipulou algumas metas para serem cumpridas no prazo de cinco anos. Uma delas é reduzir o volume de sacolas plásticas oferecidas aos clientes, com a promessa de zerá-las até 2015. Por meio de campanhas de conscientização e da venda de sacolas retornáveis, o Carrefour diz ter já conseguido diminuir em 20% o consumo dessas sacolas em 2008 e a previsão é de queda de mais 10% este ano.
Outra medida é a ampliação das estações de reciclagem para 100 lojas até 2011. Hoje, elas aparecem em só quatro das 561 unidades no país. O grupo pretende ainda lançar seu primeiro hipermercado sustentável, em Limeira (SP), com a chancela Aqua (Alta Qualidade Ambiental), certificação de edifícios adaptada do sistema francês.
As ações fazem parte de 21 projetos de desenvolvimento traçados pelo grupo em dez áreas de atuação. "A preocupação do Carrefour sempre foi mais social. A questão ambiental começou há dois anos. Agora, temos que fazer mais rápido e melhor [que a concorrência]", diz Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade da varejista. "Mas temos a pretensão de sermos os promotores do consumo consciente."
As três bandeiras do Grupo Pão de Açúcar (que inclui Extra e CompreBem) já contam com 155 estações de reciclagem, por exemplo. Pão de Açúcar e Wal-Mart também colocaram de pé, em junho de 2008 e 2009, respectivamente, as chamadas lojas "verdes". Elas abrangem desde a redução de resíduos da operação à maior oferta de produtos orgânicos e naturais.
A mudança de orientação no Carrefour, portanto, segue a tendência mundial de responsabilidade ambiental por parte das empresas - acompanhada cada vez mais pelo consumidor e cobrada por políticas ambientais rígidas.
Um exemplo do que pode dar errado na ausência de uma política de sustentabilidade (e o estrago à imagem da empresa) ocorreu em meados deste ano. Carrefour e concorrência foram advertidos pelo Ministério Público Federal do Pará por comercializarem carnes de animais criados em áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia. A notícia, que rapidamente chegou à matriz do grupo, desencadeou um pacto pela preservação da floresta tropical, exigindo a rastreabilidade dos animais. "É o começo de uma mudança", diz Pianez. Segundo ele, os 12 frigoríficos fornecedores ao grupo passaram a ser rastreados e auditados por uma empresa independente.
Mas o novo departamento, criado com a chegada de Pianez ao grupo, há um ano e sete meses, não tem orçamento próprio nem fixo. O desafio, diz o executivo, é a transversalidade do conceito - fazer com que cada departamento entenda a importância e o retorno financeiro que ela pode trazer. "Dessa forma, ações sustentáveis são incutidas em todos as áreas e o custo de implementação pulverizado."
O exemplo mais recente dessa transversalidade foi a substituição de equipamentos de refrigeração obsoletos em 34 lojas. Com investimento médio de R$ 900 mil por loja, o grupo trocará os aparelhos com idade média de 15 anos, que consomem mais energia, representam gastos altos em manutenção e ainda liberam o gás R22, que provoca danos à camada de ozônio. "A substituição estava no nosso plano estratégico por uma questão de custo financeiro mas também ambiental", diz o diretor de ativos, Julio Cesar Felix. De acordo com ele, a economia mensal de energia será de 50 mil Kwtz por loja e 1.200 m³de água.
Veículo: Valor Econômico