Redução do teor iodo no sal é aprovada

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Fabricantes terão 90 dias para se adaptar após a publicação da nova regra determinada pela Vigilância Sanitária

Médicos dizem que mudança pode pôr em risco saúde de gestantes, que precisam de mais iodo na dieta

A diretoria da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou a resolução que reduz os teores de iodo do sal.

A regra, que entra em vigor 90 dias após a publicação no "Diário Oficial da União", prevê a alteração da faixa atual --de 20 mg a 60 mg de iodo por quilo de sal-- para um teor de 15 mg a 45 mg/kg.

A agência acredita que o mercado conseguirá se adaptar facilmente, com base em uma análise segundo a qual 90% das marcas de sal já seguem o novo intervalo.

Denise Resende, gerente geral de alimentos da Anvisa, explica que a decisão foi tomada em conjunto com o Ministério da Saúde, com entidades do setor do sal e com organizações internacionais.

A proposta está baseada em estudos que identificaram níveis elevados de iodo na urina do brasileiro.

O consumo excessivo do nutriente pode causar disfunções na glândula tireoide, que produz hormônios reguladores do metabolismo.

A agência também usa dados do Ministério da Saúde que indicam que a inclusão do iodo no sal em patamares mais elevados, nas últimas décadas, teve o impacto desejado de reduzir a quantidade de pessoas com bócio (uma consequência da baixa ingestão de iodo).

Nos últimos 15 anos, será a terceira alteração feita nas proporções de iodo que deve ser acrescido ao sal.

Há especialistas que discordam da redução dos teores atuais e acreditam que a mudança terá impacto grande no país.

"É uma decisão errônea que coloca em risco a saúde das gestantes brasileiras e de seus bebês", afirma a endocrinologista Laura Ward.

Segundo ela, metade das gestantes já tem deficit de iodo, o que pode aumentar o risco de parto prematuro, abortos, anomalias congênitas e debilidade intelectual associada a alterações neurológicas.

"As pessoas estão consumindo muito sal, o que não só eleva a quantidade de iodo mas também causa hipertensão. O mais eficaz seria educar a população para que ela reduza o consumo de sal", diz Maria Izabel Chiamolera, membro da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).

A Anvisa também foi criticada por alterar os valores sem esperar pela conclusão de uma pesquisa que vai avaliar a quantidade de iodo na urina de crianças no país para verificar em que pé está o consumo dessa substância.

Denise Resende, da agência, afirmou que a ideia original era esperar o fim do estudo, mas que já há a indicação de que a pesquisa não vai mudar o atual entendimento da questão. Por isso, optou-se por fazer logo a alteração.

Segundo ela, durante a consulta pública sobre o tema, 21 contribuições foram apresentadas. Só duas (de pessoas físicas) eram desfavoráveis à redução aprovada.

Para Chiamolera, a decisão foi precipitada "Não sei se há estudos suficientes para embasar essa decisão. A maior parte deles é feita na população urbana. Não sabemos se quem vive em áreas rurais tem excesso de iodo e se o país todo vai se beneficiar da medida."


Veículo: Folha de S.Paulo


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