Assembleias irão ganhar manual

Leia em 3min 20s

As assembleias de companhias abertas estão na ordem do dia. Para melhorar o nível de transparência dos assuntos a serem abordados nas reuniões e provocar o maior ativismo de acionistas, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) incluiu o tema em sua agenda de 2009. Um dos objetivos da autarquia que regula o mercado de capitais brasileiro é facilitar a vida e as decisões de voto, por exemplo, de acionistas estrangeiros que queiram participar de assembleias pela internet. Ao conhecer em detalhes o que as empresas tratarão nas reuniões, eles poderão estudar melhor os temas. E instruir seus procuradores no Brasil a votarem de acordo com seus interesses. "A maioria das empresas brasileiras já caminha para a adoção de manuais para estabelecer melhores práticas em assembleias", diz Marta Viegas, especialista em direito societário do escritório Tozzini Freire.

 

"Um dos pontos mais relevantes em que a regulação deve tocar é o que define e detalha os temas das reuniões e quais são as recomendações de voto da administração da empresa para cada um."

 

A clareza em expressar as intenções dos executivos que estão na linha de frente das decisões das empresas é vista não apenas como uma boa conduta de governança corporativa. É também uma forma de legitimar as decisões de seus administradores. "A legislação brasileira que trata das assembleias não abre adequadamente determinados tópicos. É importante deixar muito claro nas convocações, principalmente de reuniões extraordinárias, os temas a serem tratados e explicar quais percentuais mínimos para aprovações de cada um desses tópicos, explica a responsável pelo departamento societário do Choaib, Paiva e Justo Advogados, Alexandra Cizotto Belline. "Dá mais trabalho no começo, mas dizer claramente onde se quer chegar é bom não apenas para os minoritários, que se sentem mais confortáveis, mas também para os controladores das companhias, que limitam o número de reclamações futuras", afirma.

 

Sem engessamentos

 

Alguns especialistas consultados pela Gazeta Mercantil consideram que as empresas podem ampliar o leque de assuntos que costumam tratar em assembleias com seus acionistas. Esses profissionais, no entanto, são unânimes ao afirmar que essa seria uma decisão da estrutura de governança corporativa das companhias e não tema a ser regulado pela CVM. "O princípio a ser utilizado é o de que qualquer operação que envolva altos valores e a manutenção da saúde financeira da companhia pode ser colocada para a aprovação de acionistas. No caso recente da contratação de operações com derivativos, a decisão poderia pelo menos ter sido levada à assembleia para ser ratificada ou mesmo revista", exemplifica Larissa Teixeira, sócia do Teixeira, Martins & Advogados.

 

Mesmo que sejam interpretadas como decisões delegadas à administração e sejam submetidas a outras instâncias da companhia, operações desse tipo podem ser trazidas às assembleias por outras razões. "Se você agrega riscos adicionais e modifica o propósito de atuação principal da empresa, deve ser do interesse dos administradores consultar os acionistas", recomenda Alexandra Belline.

 

Embora seja crítico à maneira como foram firmados os contratos de derivativos que trouxeram perdas gigantescas a companhias como Sadia e Aracruz, Edison Garcia, superintendente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), não considera o tema passível de ser discutido em uma assembleia. "Cada coisa tem seu espaço. Assembleias não são local de curiosidade, mas de definições. Atos do dia-a-dia são delegados pelos acionistas à direção e ao Conselho de Administração", avalia.

 

Além da disposição da CVM, entidades ligadas ao mercado de capitais também estão se movimentando para criar cartilhas com normas básicas. É o caso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), cujo guia está em discussão. "O manual deve trazer sugestões para estimular as discussões", afirma José Luiz Bichuetti, coordenador do comitê de boas práticas em assembleias do IBGC.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


Veja também

Prazo para aderir ao Simples vai até 6ª-feira e procura é recorde

O prazo para os micro e pequenos empresários aderirem ao Simples Nacional termina sexta-feira, dia 30. Até...

Veja mais
Marca de empresa falida custa caro, alertam os especialistas

Arrematar em leilão uma marca que foi famosa e, depois do sucesso, enfrenta o processo de falência, pode n&...

Veja mais
Importadoras temem autuações motivadas por variação cambial

Importadoras que usam as regras do chamado "preço de transferência" para calcular o Imposto de Renda (IR) e...

Veja mais
Advogados apontam medidas para amenizar efeitos da crise

A crise financeira mundial já começa a respingar no cenário nacional. Em função desta...

Veja mais
Liminar derruba interpretação de juntas sobre balanços de limitadas

A polêmica em torno da obrigatoriedade de publicação de balanços pelas sociedades limitadas d...

Veja mais
A Sadia, a Aracruz e o dever de 'disclosure'

Os acionistas da Sadia tiveram até o dia 5 de janeiro para manifestar interesse em figurar como litigante princip...

Veja mais
Sped terá de ser implementado até maio

Maio de 2009 é o prazo final para que todos os contribuintes que são obrigados a pagar o Imposto sobre Cir...

Veja mais
Recrusul conclui recuperação judicial três anos após pedido

A tarde de 23 de dezembro do ano passado - último dia de trabalho antes do Natal - foi um momento atípico ...

Veja mais
Empresas recorrem a precatório para pagar dívidas tributárias

Apesar da crise financeira, o comércio de precatórios segue aquecido e tem sido uma alternativa para as em...

Veja mais